
Os constrangimentos no fornecimento de gás russo à Europa, fá-la-ão recuar nas suas metas climáticas e ambientais, admitindo agora a Comissão Europeia (CE) ter de encorajar a utilização de combustíveis mais poluentes como o petróleo e o carvão para fazer face à escassez de gás.
O jornal espanhol El País, em artigo de 18-7-2022, referia que teve acesso a um plano da Comissão Europeia, chamado Poupa gás para um inverno seguro que seria aprovado a 20-7-2022, que reconhece que a queda do fluxo de gás russo nas últimas semanas faz prever uma possível deterioração do fornecimento e defende a necessidade da UE se antecipar ao risco e se prepare com espírito de solidariedade para uma disrupção prolongada, e provavelmente total, do gás russo que pode acontecer a qualquer momento.
O documento pede a introdução imediata de medidas coordenadas a nível europeu para reduzir o consumo de gás, tais como a limitação dos termostatos de sistemas de ar condicionado e aquecimento ou a redução do nível de produção de certas indústrias.
Entre as medidas de prevenção, a CE inclui a necessidade de aproveitar todas as fontes [de energia] alternativas, tenham ou não maiores níveis de emissões que o gás.
Ainda que a prioridade seja dada às fontes renováveis, a CE aplicará também (temporariamente) toda a flexibilidade disponível na diretiva de emissões industriais e na sua avaliação ambiental, segundo o plano a que El País teve acesso. O que significa que os limites das emissões em vigor terão de ser revistos em alta.
A mudança para outras fontes de energia já acontece naturalmente devido à escalada do preço do gás com, a título de exemplo, a Alemanha a autorizar o retorno à produção de eletricidade a partir do carvão, a ser debatido o regresso à centrais nucleares, e a Bélgica a adiar o fecho de centrais nucleares.
A Comissão Europeia considera imprescindível voltar a utilizar fontes de energia que estavam a ser abandonadas por razões ambientais e climáticas. O plano da CE referido pelo El País prevê ainda apoios comunitários para a alteração/reconversão de processos de produção de energia.
A aflição de insuficiência energética ocorre em simultâneo à revolta de agricultores holandeses, a que já aderiram os de outros países, por causa da restrição ao uso de fertilizantes (que levou ao colapso agrícola e alimentar do Sri Lanka) e limitação no número de cabeças de gado, para cumprimento de metas climáticas e ambientais do Acordo de Paris, cujo calendário tem sido contestado como irrealista e objetivos de impacto irrisório.