
Wilson Filipe, líder da ocupação da herdade da Torre Bela, de Manique do Intendente, na Azambuja, falecido na véspera de Natal de 2020, terá sido vitimado pela Covid-19.
A ocupação desta herdade privada durou de 23 de abril de 1975 a 1978.
Antes da ocupação, Wilson, natural de Manique do Intendente, a freguesia da quinta, dedicava-se ao negócio da prostituição em Lisboa e assaltara um carro e um banco. Cadastrado, cumpria pena quando foi libertado após o 25 de abril de 1974. Exemplo do subproletariado (lumpenproletariat) marxista, tornou-se o chefe da Torre Bela. Conhecido como Sabu, e vendedor de camiões depois, acabou por deixar saudades na zona.
Para apoio político na ocupação, em 1975, Wilson recorreu à LUAR, de Camilo Mortágua, um revolucionário também assaltante de bancos (Banco de Portugal, da Figueira da Foz, em 1967, com Palma Inácio) e que teve papel cimeiro na prolongada ocupação da herdade do duque de Lafões. Camilo é pai das gémeas Mariana e Joana do Bloco de Esquerda.
Para a história do PREC e do comunismo em Portugal, ficou uma discussão épica sobre a propriedade da enxada entre Wilson, o líder da cooperativa, e Quelhas, um cavador, incluída no documentário sobre a ocupação, realizado por Thomas Harlan e estreado em 1979. Quelhas conseguiu manter a posse da enxada que Wilson queria para a cooperativa. Essa discussão emula, noutra época e nível, o debate teológico-jurídico da propriedade da túnica de Cristo entre Marsilio da Padova e William of Ockham no séc. XIII, glosado em “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco (1980).
A propriedade coletiva dos meios de produção, que a reforma agrária pretendia impor em Portugal em 1975, não vingou então. Contudo, 45 anos depois, quem está no poder é o Partido Socialista com apoio parlamentar leninista (PC) e trostskista (Bloco de Esquerda).