
A direita portuguesa não existe. Reparemos nos nomes das coisas. Partido Social Democrata e Centro Democrático e Social. O social está no centro programático dos dois partidos. O PSD e o CDS nasceram numa época em que a esquerda se apoderou do espaço público e da linguagem política. Nasceram com o receio de que a esquerda lhes retirasse legitimidade e impedisse de existirem. Para que a esquerda os legitimasse, os dois partidos tiveram de aceitar o quadro linguístico, doutrinário e programático, que a esquerda exige aos partidos que aspiram a um certificado de bondade e de virtude. De outra forma, sem essa certificação, os dois partidos corriam o risco de serem qualificados de fascistas ou extremistas de direita. Uma qualificação que os colocaria fora do sistema.
A direita portuguesa tem vergonha de o ser. Deixou-se contaminar pela ideia de que a esquerda procura finalidades virtuosas usando meios desajustados, pelo que a esquerda não pode ser identificada como o inimigo. Adversária, sim; inimiga, não. Assim sendo, a direita envergonhada aceita partilhar as finalidades da esquerda, propondo meios diferentes para atingir as finalidades comuns. A diferença entre os partidos sistémicos reside apenas numa questão de meios. Todos partilham o afecto pela crescente intervenção do Estado na vida das pessoas, pelo proibicionismo a propósito de quase tudo, pela justiça social, pela igualdade e pela inclusão. Divergem apenas nos meios utilizados para alcançar tais desideratos.
Os partidos da direita envergonhada esquecem que, no novo linguajar da esquerda, a estrada para o comunismo escreve-se com as palavras igualdade, justiça social e inclusão. E quem for dono da linguagem é dono do pensamento.
A direita ignora que não se vencem batalhas sem a prévia identificação do inimigo. Esquece que o centro não existe. Foi capturado pela hegemonia da esquerda que há 47 anos monopoliza o espaço público e político e se serve das escolas, das universidades e dos média, para formatar politicamente o Povo e passar certificados de bom comportamento. E quando o controlo da linguagem não é suficiente para condicionar e amestrar quem se desvia da cartilha politicamente correcta, a esquerda faz uso do seu apetite proibicionista, sempre em nome de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva.
A direita envergonhada aceita que a esquerda tenha legitimidade para definir o que é o bom comportamento em política e nos costumes. Ao aceitar essa legitimidade, a direita deixa-se capturar pela esquerda. Aceita a superioridade moral da esquerda. Resigna-se à menoridade política. Pede autorização à esquerda para existir.
O apetite normativo, regulatório e proibicionista da esquerda não conhece limites. A forma como a esquerda controla as populações, suprime direitos e liberdades, em nome do combate à pandemia, é a prova de que o autoritarismo da esquerda é uma característica estruturante e não um traço conjuntural.
PSD e CDS não definem a esquerda como o inimigo. Sem essa prévia identificação do inimigo, o eleitorado de direita fica órfão de representação e tende a encarar esses dois partidos como sistémicos, isto é, oferecendo o mesmo menu que os partidos de esquerda. Sem representação, o potencial eleitorado de direita converge para a abstenção, abrindo caminho para que a esquerda se perpetue no poder, surgindo face ao eleitorado como a dona do Estado e receptáculo da solidariedade europeia, leia-se subsídios.
Enquanto os partidos à direita do PS não forem capazes de afirmar que o Povo tem de escolher entre comunismo ou liberdade, como fez há pouco tempo o Partido Popular nas eleições para a Comunidade Autónoma de Madrid, nunca conseguirão bater a esquerda.
Um Povo que tem como desígnio nacional a pedinchice tende a convergir e a apoiar os partidos que se especializaram na distribuição de riqueza alheia e na criação de dívida, portadores de uma cultura avessa ao risco e ao mérito. Um Povo que deixou de ter ambição e que olha para o Estado como uma criança olha para os pais depressa se vicia em subsídios a fundo perdido.
Quarenta e sete anos de socialismo afastaram o Povo daquilo que faz os povos grandes: a capacidade de cada um se autodeterminar e ser senhor de si próprio. Um Povo que se afasta da autodeterminação tende a desvalorizar a liberdade.
Vinte anos de estagnação económica encostaram a classe média à pobreza. Seria de esperar que o PSD e o CDS colocassem o empobrecimento do país, provocado pelas políticas de esquerda, no centro do debate político. Não colocaram porque têm para oferecer ao eleitorado o mesmo que os partidos de esquerda: um Estado que intervém em tudo o que mexe, estagnação económica, dívida crescente e empobrecimento.
Ramiro Marques
* O autor usa a norma ortográfica anterior.
Paulo Coelho Dias / Maio 15, 2021
Artigo muito oportuno e com uma sagacidade fulminante face à realidade que vivemos. Paulo Dias
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João Brandão / Maio 15, 2021
O psd, minúsculas deliberadas, de há 20 anos para cá, não mais, sempre atraiçoou a maioria dos seus eleitores!
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