Recomendo a leitura do corajoso e brilhante artigo do padre Fernando Calado Rodrigues, no JN, deste 22-11-2023: “O que leva clérigos à maçonaria?”.

A posição oficial da Igreja Católica – dos Papas e da Congregação para a Doutrina da Fé – sempre foi clara: a pertença à maçonaria é incompatível com a condição de católico. Não se trata apenas das doutrinas opostas que a maçonaria professa – como o antidogmatismo, a gnose e o deísmo (ou o ateísmo na maçonaria dita irregular) – e o secretismo, mas também da discriminação negativa dos não membros da organização (os designados “profanos”) face aos “irmãos”, que consiste num elitismo desumano.

Para uma mais abrangente compreensão da incompatibilidade filosófica entre cristianismo e maçonaria leia-se, de Ullate Fabo, “O segredo maçónico desvendado”, 2010. Na perspetiva política contemporânea sobre a ação nefasta da maçonaria em Portugal, permito-me recordar o meu poste Do Portugal Profundo, em 9-12-2008, «A influência da Maçonaria na III República portuguesa».

Deve ser louvada a reafirmação pelo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Víctor Fernández, fez, em 13-11-2023, a rogo do Papa Francisco e por ele aprovada, e que transcrevo:

”Ao nível doutrinário, deve dizer-se a filiação ativa de um fiel à maçonaria é proibida, devido à irreconciliabilidade entre a doutrina católica e a maçonaria (cf. a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé de 1983 [elaborada pelo então prefeito cardeal Joseph Ratzinger, e o secretário bispo Jérôme Hamer, e aprovada pelo Papa João Paulo II] e as mesmas Diretrizes publicadas pela Conferência episcopal em 2003). Portanto, aqueles que formalmente e conscientemente estão inscritos em lojas maçónicas e abraçaram os princípios maçónicos, se enquadram nas disposições da Declaração acima mencionada. Essas medidas também se aplicam a eventuais eclesiásticos inscritos na maçonaria”.

A Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé de 26-11-1983, agora reiterada, estipulava que “os fiéis que pertençam às associações maçónicas encontram-se em estado de pecado grave e não podem aceder à Santa Comunhão”.

Se a filiação na maçonaria é irreconciliável com a condição de católico, é ignominiosa a pertença de um padre a essas organizações e ainda mais aviltante a de um bispo e até de um cardeal. No caso português, como denunciei, a pertença de um bispo à maçonaria, mesmo que à sua versão regular, tal como a participação de cardeais em ágapes maçónicos ou debates em bares, denotava uma degeneração da Igreja nacional, que esta tem de reparar, nomeadamente no Patriarcado de Lisboa. Mais, a progressão da maçonaria nas elites políticas e sociais do País para além dos grandes centros, controlando as canónicas misericórdias e fora locais, tem aumentado a promiscuidade de clérigos com as fraternidades maçónicas, um problema muito grave que a Conferência Episcopal Portuguesa deveria clarificar, na sequência da posição reiterada do governo da Igreja universal.

”Se o sal se corromper, com que se há-de salgar?” (Mateus, 5:13).


António Balbino Caldeira
Diretor

A progressão da maçonaria nas elites políticas e sociais do País para além dos grandes centros, controlando as canónicas misericórdias e fora locais, tem aumentado a promiscuidade de clérigos com as fraternidades maçónicas, um problema muito grave que a Conferência Episcopal Portuguesa deveria clarificar, na

Como sabem teremos eleições no próximo 10 de março e essa data poderá marcar uma nova etapa histórica na política portuguesa. Será o dia em que os portugueses dirão se preferem a manutenção do monolítico bloco central ou se querem um cenário multipartidário que foge ao paradigma habitual.

Desde 1974 que duas forças dominantes se basearam na confiança e crença dos portugueses para liderar a nação: PSD e PS.

Desde então já tivemos a morte do império, três bancarrotas, a morte da nossa soberania monetária, a reconstrução republicana de uma dívida impagável e o cultivo de um descrédito em relação à política com taxas de abstenção inaceitáveis.

Este produto tem um pai e uma mãe. Infelizmente, amigos das duas partes do casal recusaram-se a combater um casamento tóxico para milhões de portugueses.

O PCP e o BE destruíram a sua identidade anti sistema depois de darem a mão ao PS. Não preciso de falar dos chavões da corrupção e de Sócrates dado que o mero apoio estrutural à democracia liberal constitui uma contradição face às profundas pretensões revolucionárias da extrema-esquerda.

Do outro lado tivemos o CDS e a agora a IL. Um foi descartado como um pano usado nas últimas legislativas por um PSD que o podia ter salvo depois de anos decadentes pós-Portismo, enquanto o outro partido quer ocupar esse posto vazio.

O CDS vai ser um apêndice do PSD caso retorne ao parlamento numa coligação pré eleitoral, sabendo muito bem que se torna inútil depositar qualquer tipo de esperança num partido que não tem soberania material e moral para fazer oposição futura a um dos responsáveis pelo estado do país. A nostalgia da AD não serve para tudo, especialmente quando o nosso país corre o sério risco de deixar de ser português.

O mesmo se aplica à IL que tem uma vertente interna que quer ser progressista e cortar com o “mesmo de sempre”. Essa facção é ideológica e não tanto pragmática, pelo que valoriza a pureza de não entrar em esquemas de subserviência ao PSD, um sem iniciativa reformista e que não pretende ser um elemento descaradamente tão aceleracionista do panorama cultural e político que assola a nossa civilização cada vez mais destruída pela imigração descontrolada, liberal-marxismo cultural, centralização económica e fraqueza geopolítica.

Falta-nos o CHEGA. Onde é que se insere este partido “isolado”? Não se insere. Pensem na quantidade de vezes que a classe política falou do CHEGA enquanto elemento “anormal” da política portuguesa. De facto, ser diferente num mar de mediocridade é uma tarefa complicada. Se mais nenhum partido quer resolver juntamente o caos imigratório, valorizar a família portuguesa (no seu modelo funcional e tradicional), reformar fiscal e burocraticamente a economia/administração pública portuguesa, assim como reformar a justiça e o próprio sistema político, então esse espaço será certamente ocupado pelo CHEGA.

O facto é que estamos numa luta contra o tempo. As portas não devem ser fechadas de forma antecipada pois a melhor coisa que podia acontecer aos portugueses nas próximas eleições, realisticamente falando e devido à urgência dos assuntos, era o CHEGA ter a pujança necessária para obrigar o PSD a incluí-lo em pastas como a administração interna, justiça, saúde ou o ensino (entre outras), de forma a assegurar um governo que na sua totalidade não seria de direita, mas seria o governo mais à direita da história da III República. Como o PSD não é de direita e tem um maior interesse na manutenção do status quo que ajudou a criar, Montenegro vai arriscar a sua sorte no voto útil para tentar esvaziar um CHEGA cada vez mais ambicioso em romper o bipartidarismo.

Mais importante do que os ministérios, seriam os agentes políticos que poderiam dar tempo aos portugueses para respirar. Respirar no sentido de assegurar que existe uma mudança fiscal profunda face ao atual estado de coisas onde o povo vive atolado em impostos. Respirar no sentido de colocar um travão à imigração e cumprir uma lei decente ao deportar todos os imigrantes ilegais e impedir que elementos subversivos em termos culturais e de segurança possam entrar no nosso território. Respirar no sentido de verem dirimidos os problemas gritantes na saúde, ensino, transportes e habitação.

Em 4 anos poderia ser feita muita coisa se o CHEGA fosse visto como a força popular que é, tal como noutros países da Europa que incluem elementos do ID e ECR nos seus governos: Itália, Finlândia, Suécia. Tudo países atrasados como podemos ver.

Sabendo que não é do interesse da IL e do PSD que o CHEGA tenha uma oportunidade para se normalizar, cabe ao próprio CHEGA fazer das eleições de 10 de março uma luta que vai além da dicotomia entre esquerda e direita. Estas eleições terão de ser, na verdade, uma luta entre os partidos do sistema e os que não apoiam o atual sistema.

Se os partidos já só pensam em formas de impedir o CHEGA de entrar no governo, porque não abraçar essa mentalidade minguada? Se querem o mesmo sistema de sempre a governar, o PSD que peça ajuda ao PS para a sua bancada se abster na aprovação do próximo plano de governo e orçamento de Estado.

Afinal de contas, se o próprio PSD deu a mão ao PS de Sócrates quando este não tinha maioria para aprovar o seu plano de governo e orçamento de Estado em 2009, não seria de todo surpreendente se os socialistas retribuíssem o favor em nome da estabilidade do regime (utilmente) bipartidário.


Francisco Pereira Araújo

Como sabem teremos eleições no próximo 10 de março e essa data poderá marcar uma nova etapa histórica na política portuguesa. Será o dia em que os portugueses dirão se preferem a manutenção do monolítico bloco central ou se querem um cenário multipartidário que foge

Começam a faltar-me palavras para descrever a promiscuidade sexual vigente e as parafilias que as crianças estão a desenvolver, devido à exposição prematura e constante à ideologia do género. Quase todos os dias me chegam queixas, de pais e professores, a darem conta, por exemplo, de uma menina que, no ano anterior, era muito feminina e, este ano, se apresentou vestida como um rapaz e a exigir ser tratada por um nome masculino; de um menino que, de repente, aparece na escola maquilhado, com as unhas pintadas, vestido como uma menina e a exigir ser tratado de acordo com a fantasia que a mamã lhe vestiu; de uma criança que levou uma caixa de areia para a escola e exigiu um espaço reservado para a colocar, pois é um gato preso no corpo de um humano [é transespécie] e precisa de fazer as suas necessidades fisiológicas na areia (não sei se, à semelhança dos gatos, é incapaz de mudar a própria areia e se os trabalhadores da escola serão obrigados a mudar-lha);  e de outros, como ainda hoje me confidenciava uma professora, que querem ser tratados por outro pronome, que não aquele que corresponde ao seu sexo, mas que vão mudando os pronomes de acordo com o humor matinal. Inteligentemente, ela decidiu tratar os alunos, que não querem ser tratados pelo nome e pelo pronome correspondentes ao seu sexo, pelo apelido que (ainda) não é mutável.

O quadro é negro e a saúde mental das crianças parece piorar a cada dia. Mas, quando parece que este manicómio a céu aberto não pode piorar, surgem aquelas pessoas carregadas de diplomas e títulos académicos – tal como aqueles que elaboraram a perversa ideologia do género – com mais propostas absolutamente hediondas e execráveis.

Hoje, decidir partilhar o caso de um professor emérito da Universidade Estadual da Califórnia que tem vindo a dar palestras académicas sobre “expandir o guarda-chuva transgénero” e que, durante mais de duas décadas, participou num fórum de fetiche que hospeda e produz pornografia escrita sadomasoquista extrema envolvendo a castração e a tortura de crianças.

Assim, de acordo com este artigo da Reduxx, Thomas W. Johnson, professor reformado da California State University, Chico [Universidade Estatal da Califórnia, em Chico], é um dos membros formadores do site de fetiches sobre modificações corporais The Eunuch Archive, que foi objecto de uma investigação divulgada no dia 17 de Maio de 2022. Na altura, a identidade de Johnson como utilizador anónimo que dá pelo nome de “Jesus” ainda não tinha sido confirmada. Mas, de acordo com várias mensagens publicadas no fórum, em Março e Abril, Johnson deixou escapar a sua identidade e convidou os membros do site para participarem num inquérito académico sobre “experiências de infância, desejo de castração e história sexual”, bem como a assistirem a uma palestra sua na CSUC através do Zoom.

Os interesses académicos do Professor defendem a expansão do conceito de “identidade de género” para incluir homens com fantasias de castração sadomasoquistas e mesmo pedófilas – algo que foi agora incluído como uma identidade de homem para eunuco no projecto de Normas de Cuidados para a Associação Profissional Mundial de Saúde Transgénero (WPATH), o organismo médico internacional que estabelece directrizes, incluindo as relacionadas com a transição sexual [mudança de sexo] de crianças.

Conforme relatado anteriormente o Arquivo Eunuco alberga mais de 3.000 peças de pornografia infantil fictícia que descrevem pormenorizadamente a violação, a tortura e a morte de crianças. Em algumas narrativas, crianças com puberdade atrofiada são violadas por médicos. Noutras, as crianças são castradas à força como parte de um ritual sádico de tortura sexual.

De acordo com a investigação do próprio Johnson, a maioria dos membros do site, que participou num inquérito, citou a fantasia sexual como a principal razão do seu interesse pela castração. Alguns participantes no inquérito afirmaram que ficavam sexualmente excitados quando viam animais a serem castrados.

Além disso, os membros do grupo utilizaram o fórum para solicitar informações sobre médicos dispostos a efetuar orquiectomias [remoção cirúrgica de um ou dos dois testículos] sem uma avaliação psiquiátrica. Há também anúncios pessoais em que os participantes pedem parceiros para actos de BDSM: «Procuro modificação total do corpo… Escravo em busca de Mestre que queira pegar num rapaz e transformá-lo num brinquedo fetiche exótico», escreveu um membro do site.

Para além de Johnson, as identidades de dois outros membros importantes do site também foram determinadas pela Reduxx como académicos igualmente proeminentes.

Richard J. Wassersug usa o pseudónimo “Eunuchunique”, no fórum, há mais de 20 anos, enquanto Krister H. Willette, que é um membro activo na comunidade desde 1998, usa o nome “Kristoff”. Os dois homens, juntamente com Johnson, apresentaram a investigação de que são co-autores numa conferência organizada pela WPATH, que se realizou em Oslo no ano 2009. Wassersug foi professor honorário no Departamento de Ciências Celulares e Fisiológicas da Universidade da Colúmbia Britânica, mas também esteve ligado às Universidades de Dalhousie e La Trobe.

Em Maio de 2010, o conteúdo da apresentação de Oslo foi publicado no The International Journal of Transgenderism, uma revista académica editada pela WPATH.

Em 2011, Wassersug, Willette e Johnson foram novamente convidados para falar numa conferência da WPATH, em Atlanta, Geórgia. Foi durante esta conferência que foi tomada a decisão de desclassificar a Perturbação da Identidade de Género como uma doença psicológica. “Disforia de Género” passaria a ser a terminologia recomendada.

Johnson afirma ter tido influência na edição da 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). O DSM é considerado o guia de referência para o diagnóstico de perturbações mentais nos Estados Unidos, mas também é referenciado a nível internacional. «O projecto para a próxima edição do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5) sugere “Incongruência de Género”, que eu prefiro», escreveu Johnson em 2010. «O corpo e a mente estão dessincronizados, sem que esteja implícita qualquer doença mental!»

Mais tarde, Johnson acrescentou: «Fui um dos muitos que foram convidados a redigir documentos de posição para o comité ler enquanto preparava o seu projecto. Também escrevi um longo comentário sobre o projecto, que o comité irá utilizar durante o processo de revisão.»

Quando o DSM-5 foi lançado, em 2013, um termo para uma fixação patológica e sexualizada em mutilação genital foi removido. Anteriormente, a síndrome de Skoptic tinha sido listada como um distúrbio de identidade de género no DSM-4.

Em 2016, Johnson afirmou ter sido especificamente escolhido, pelo antigo presidente da WPATH, Eli Coleman, para reescrever uma parte das Normas de Cuidados. [Ele] «apontou para mim e anunciou que se esperava que eu fornecesse informações sobre eunucos para a revisão. Agora é a nossa oportunidade de ajudar a conceber as normas de cuidados que serão mais úteis».

Durante cerca de 20 anos, o Arquivo Eunuco organizou um “Encontro de Membros” anual. O evento tem lugar em Minneapolis, Minnesota, a área de residência de Willette, e é co-organizado por Willette e Johnson. Minneapolis é também o local onde o antigo presidente da WPATH, Eli Coleman, vive e trabalha actualmente.

Anteriormente, Johnson e Wassersug já haviam divulgado “pesquisas académicas” que justificam as fantasias pedófilas entre os fetichistas da castração. Em 2015, num artigo intitulado “O lado sexual das narrativas de castração”, o material fictício de abuso sexual infantil foi chamado de “terapêutico” e útil para aqueles com ideações eunucas.

No dia 13 de Maio de 2022, uma investigação de Johnson e Wassersug intitulada Castration for Pleasure: Exploring Extreme Castration Ideations in Fiction [Castração por Prazer: Explorando Ideações Extremas de Castração na Ficção] foi publicada nos Archives of Sexual Behavior [Arquivos de Comportamento Sexual]:

«As histórias mais populares [do Arquivo Eunuco] ligam a gratificação sexual e a parceria romântica ao abuso genital. São caracterizadas pela ausência de consentimento para ablações genitais e múltiplas parafilias relacionadas com o sadomasoquismo», observam Johnson e Wassersug. «Muitas histórias apresentam atração e a ablação dos órgãos genitais de homens púberes ou adolescentes

Predadores! Corja de predadores. Cri-mi-no-sos.  

Sim! Neste preciso momento, há predadores sexuais, cheios de títulos académicos, empenhados em expandir o conceito de “identidade de género” para incluir homens com fantasias de castração sadomasoquistas e mesmo pedófilas, que poderão violar crianças em nome da “gratificação sexual” e de uma suposta “parceria romântica”, que estes vermes têm vindo a ligar ao abuso genital e até à castração dos órgãos genitais de homens púberes ou adolescentes.

Como é que alguém pode ter conhecimento destes factos, enterrar a cabeça na areia e fingir que nada disto está a acontecer, que são teorias da conspiração, que, a ser verdade, só acontece noutros países, que nunca cá chegará, blá, blá, blá?

Um dia, não tarda, e tal como está a acontecer com a ideologia de género, os interesses pedófilos e sadomasoquistas do Professor Thomas W. Johnson terão a sua realização plena à custa das nossas crianças e nenhuma prática pedófila será condenada, pois a pedofilia será apenas mais uma das cento e muitas (des)orientações sexuais.


Maria Helena Costa

*A autora escreve segundo a anterior norma ortográfica.

Um dia, não tarda, e tal como está a acontecer com a ideologia de género, os interesses pedófilos e sadomasoquistas do Professor Thomas W. Johnson terão a sua realização plena à custa das nossas crianças e nenhuma prática pedófila será condenada, pois a pedofilia será

O clima está hoje no centro das preocupações do governo! Ele permite justificar diversas medidas como investimentos, taxas, impostos, restrições, etc., e o envolvimento directo ou indirecto de membros do governo no apoio e na remoção de “obstáculos legais” em projectos “verdes” de milhares de milhões como o Lítio, o Hidrogénio Verde e o Data Center (alimentado por grandes parques solares e eólicos).

A narrativa climática é a mais adequada para fazer avançar projectos desta natureza. De facto, sem esta “bengala climática”, nem o Hidrogénio Verde nem o Data Center Verde poderiam beneficiar dos apoios previstos e necessários. A componente “verde” é essencial para os apoios, e justifica a intervenção governamental para a remoção dos impedimentos legais ambientais.

Quanto à exploração de Lítio, se e enquanto este metal tiver valor económico e se os nossos minérios forem adequados, não é preciso recorrer à narrativa climática para a justificar, embora ela esteja na base da grande procura do Lítio para o fabrico de baterias que vão ajudar na tão “desejada” transição energética que visa a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Portanto, é neste “clima” da narrativa climática que estes projectos milionários prioritários encontram justificação e dão cobertura “moral” à hiperactividade de membros do governo que tudo fazem para que eles avancem e depressa – é por uma causa maior, salvar o planeta!

Até que ponto os esforços de Portugal na redução de gases de efeito de estufa podem salvar o planeta? No nosso artigo de 28-10-2023 dissemos que a contribuição portuguesa nas emissões anuais globais de CO2 é de 0,00513%, ou seja, uma parte em quase 20.000. Mas a propaganda sobre as alterações climáticas antrópicas é muito poderosa e consegue branquear estes investimentos parasitários, perdão, verdes como o Hidrogénio, os Data Centers, as eólicas on- e offshore e o atapetamento de extensas áreas do país com painéis fotovoltaicos, etc..

Terá sido isto, ou seja, o contributo infinitesimal dos projectos portugueses para a descarbonização do planeta, que levou o Ministério Público a suspeitar que não são as alterações climáticas que estão em jogo e que no fundo os projectos “verdes” apenas servem para esconder grandes interesses económicos que podem levar à corrupção do poder por intermédio de certos “influencers”?

Henrique Sousa

Até que ponto os esforços de Portugal na redução de gases de efeito de estufa podem salvar o planeta?

Segundo revela Felícia Cabrita no Sol, de 10-11-2023, Vítor Escária, chefe de gabinete de António Costa, terá dito aos investigadores, em 7-11-2023, durante as buscas à sua sala na residência oficial do primeiro-ministro, sobre os 75.800 euros em dinheiro, encontrados entre livros e numa gaveta: “não é meu”.

Desta vergonha resulta uma pergunta legítima sobre este episódio da Operação Influencer, relativa aos projetos do Campus Data Center, da produção de hidrogénio em Sines e da extração e refinaria de lítio, em Boticas e Montalegre. Se não é do chefe de gabinete Vítor Escária, então o dinheiro é de quem?

António Balbino Caldeira

Se não é do chefe de gabinete Vítor Escária, então o dinheiro é de quem?

A frequência com que se fala insistentemente das alterações climáticas levou-nos a investigar outros interesses que poderão estar envolvidos, para além da desculpa mais apregoada – limitar a subida da temperatura terrestre global em um ou dois graus centígrados para evitar uma série de catástrofes climáticas anunciadas (ou inventadas).

Não considerando os negócios ruinosos das energias verdes (eólicas, solares, veículos eléctricos, hidrogénio, etc.), os governos tiram também bastante partido do “combate às alterações climáticas”, taxando tudo que possa contribuir para o aumento de gases de efeito estufa de origem antrópica, alegados responsáveis pelo aquecimento do planeta.

Os alvos predilectos da taxação climática são, assim, os combustíveis fósseis. Entre nós, por exemplo, apesar de já estarem sujeitos a um imposto específico (ISP) e ao IVA, pagam também a taxa de carbono e o imposto de circulação que já inclui um agravamento “climático”. A taxa de carbono reverte alegadamente a favor de um Fundo Ambiental que é usado para subsidiar projectos ditos “verdes”.

Em novembro de 2021 realizou-se em Glasgow na Escócia a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021 (COP 26) onde ficou claro aquilo que realmente move estes encontros: os negócios em torno do carbono, vide vídeo abaixo.

Os Créditos de Carbono, também conhecidos como a Redução Certificada de Emissões (RCE) são certificados emitidos para pessoas, empresas ou países que reduzam ou evitem a emissão de gases de efeito estufa (GEE). Uma tonelada de dióxido de carbono (ou o equivalente de outros gases) corresponde a um crédito de carbono que pode ser negociado no mercado internacional.

Comprar créditos de carbono significa comprar uma autorização para emitir gases do efeito estufa (GEE). O preço deve ser inferior ao da “multa” que o emissor é obrigado a pagar ao poder público por emitir GEE. Na práctica, equivale a um desconto sobre essa penalização.

O Protocolo de Quioto (1997) e o subsequente Acordo de Paris (2015) levaram ao estabelecimento de quotas máximas de GEE a emitir pelos países e estes, por sua vez, comprometeram-se a criar leis que restrinjam as emissões de GEE. Isto permite àqueles países ou indústrias que não conseguem atingir as metas de redução das emissões e ultrapassam as suas quotas, comprar créditos de carbono aos países que os vendem, em geral os menos desenvolvidos. Além disso, os países podem gerar créditos se capturarem carbono da atmosfera através das suas florestas ou aumentando a área florestal, etc..

O que se pode, assim, esperar que aconteça? Que os países mais industrializados sejam os compradores de créditos de carbono aos países menos industrializados. Esta política constitui uma desmotivação ao desenvolvimento dos países menos industrializados uma vez que equivale a serem pagos para não se industrializarem, ao vender os seus créditos não utilizados aos países industrializados.

Muitos poderão achar isto justo, apesar de impedir o desenvolvimento dos países mais pobres. Dirão que é uma forma de partilha dos lucros dos países industriais com os mais pobres. Mas é isso que está a passar-se na realidade?

Os créditos de carbono constituem um mercado de milhares de milhões ou mesmo biliões de dólares/euros, havendo quem o considere uma mina a ser explorada com vista ao lucro fácil. Se a venda de créditos devia reverter em benefício dos países que geram créditos (ou não usam a sua quota), o lucro acaba nas mãos de empresas que se dedicam a explorar a mina.

No Zimbabué, por exemplo, e segundo esta fonte, o governo deu a uma empresa recém-constituída e sediada no Dubai, os direitos de conservação de florestas sobre um quinto do seu território para gerar créditos de carbono. A empresa fica com 70% do resultado da venda desses créditos e o governo com apenas 30% que promete dividir com a população. Do artigo extraímos este trecho traduzido:

“Em 29 de setembro, o Zimbabué concedeu a uma empresa com sede nos Emirados Árabes Unidos direitos de conservação sobre 7,5 milhões de hectares de suas florestas – cerca de 20% da massa territorial do país. Pelo acordo, avaliado em US$ 1,5 bilião [mil milhões], a Blue Carbon General Trading executará projetos de preservação florestal que gerarão créditos de carbono para serem vendidos no mercado global”.

Isto acontece num país que depende muito da lenha para as suas actividades económicas e usos domésticos, podendo os seus cidadãos ficar privados desse recurso porque há que proteger a floresta para gerar créditos de carbono cujos lucros sairão do país pobre para um país rico.

E o que se passa no Zimbabué, passa-se também noutros países de África ou América Latina e, quiçá, em breve também no Brasil onde a floresta amazónica poderá vir a ser entregue a uma empresa que se dedique a executar projectos de preservação florestal para gerar créditos de carbono.

E assim se vai ganhando dinheiro por esse mundo fora à custa das alterações climáticas!

Henrique Sousa

Editor para Energia e Ambiente do Inconveniente

Os créditos de carbono constituem um mercado de milhares de milhões ou mesmo bilhões de dólares/euros, havendo quem o considere uma mina a ser explorada com vista ao lucro fácil.

António Costa tentou aguentar-se no cargo, mas não resistiu. Demitiu-se a 7-11-2023, porque vai ser constituído arguido, num processo aberto no Supremo Tribunal de Justiça. A declaração ao País que fez foi aflitiva, de contraditória com os factos, no tom e na comunicação não-verbal.

As detenções do testa de ferro para os negócios de Estado do primeiro-ministro, Diogo Lacerda Machado, do seu chefe de gabinete Vítor Escária, além do presidente socialista da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas, e de outros envolvidos, e as buscas à Presidência do Conselho de Ministros, Ministério do Ambiente e residências do ministro João Galamba e ex-ministro João Pedro Matos Fernandes, noticiadas na manhã de 7-11-2023, por causa de alegada corrupção nos giga-projetos de produção do hidrogénio, em Sines, e do lítio, em Boticas, significava o princípio do fim de António Costa. Mas o próprio primeiro-ministro vai ser arguido.

Escapou da responsabilização pela renegociação manhosa do SIRESP-Parte II, em 2006, dos escândalos do faustoso apartamento duplex da Avenida da Liberdade (em Lisboa) e da acumulação do pagamento chorudo de comentário político (na SIC) ao mesmo tempo que mantinha a exclusividade na Câmara de Lisboa e usufruía de menor pagamento de impostos, revelado em denúncia de março de 2015 no blogue Do Portugal Profundo, e do escândalo da alegada compra para a família de apartamentos de luxo (três?) num condomínio de Benfica (Lisboa). Mas não se livrou neste caso. Comprometido poderia estar o negócio do hidrogénio, também investigado naquele blogue em 8-6-2020, na relação dos Costas do mesmo castelo, mas é de crer que os contratos sejam assinados antes do Governo sair — e os próximos farão o habitual.

Agora se percebe o motivo do surgimento, em 3-11-2023, há quatro dias, na TVI, do caso da alegada intercessão da nora do Presidente da República e deste mesmo, no favorecimento da administração gratuita de um medicamento caríssimo para tratamento de doenças raras, em que teria intervindo até o Governo na satisfação deste capricho. Foi um ataque preventivo do primeiro-ministro ao Presidente para o condicionar nas decisões e a opinião pública. Costa parece jogar em atirar a porcaria para a ventoinha para que fiquem todos sujos.

Desta costa à contra-costa de Sócrates e aos costados de Soares, a natureza corrupta do socialismo é a mesma. Variam os personagens, mas o teatro é o mesmo. E quem não é de cena tem de se afastar porque no palco só há lugar para os farsantes e artistas.


António Balbino Caldeira

Desta costa à contra-costa de Sócrates e aos costados de Soares, a natureza corrupta do socialismo é a mesma

ABC, Moinho junto ao palácio de Sanssouci, em Potsdam, Alemanha. Segundo a lenda, em 1787, o imperador Frederico II da Prússia notava sobre a recusa do moleiro em lhe vender o moinho vizinho, que entendia desfear o enquadramento do paço, que lho poderia tirar sem pagar nada. O moleiro respondeu que o imperador poderia fazer isso… «se não tivéssemos juízes em Berlim». O moinho ainda lá está: alguns ainda acham, como o monarca e a corte, que prejudica esteticamente o palácio, mas quem sabe da lenda, valoriza a supremacia do cidadão perante o abuso do Estado.

É normal que os Estados, por intermédio dos governos que episodicamente o representam, homenageiem os seus heróis. Fizeram-no, desde o início, qualquer que fosse a sua natureza – real, aristocrática, oligárquica e democrática –, com desfiles e coroas de louros, discursos e estátuas, decretos e sinecuras, títulos e propriedades, frequentemente contra a vontade dos próprios, a quem basta a satisfação do dever cumprido. Constante, todavia, após a festa, é o afastamento pelo poder político do herói que lhe excede o prestígio e a popularidade. Uma espécie de maldição do vencedor – a não ser que o povo desconte os inquéritos e boatos criados pelos governos e imponha a sua chefia ao poder ingrato. Noutros casos, porque o herói tem moral superior e não padece de ingenuidade, é o próprio herói que se recolhe: para casa ou para o convento.

O padre António Vieira reconhecia essa ingratidão do Estado no Sermão da Terceira Quarta-Feira da Quaresma, pronunciado na Capela Real em 20 de março de 1669: Se servistes a Pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma.” E explicava, com uma pergunta, o motivo do serviço não reconhecido: “Mas que paga maior para um coração honrado que ter feito o que devia?“. Portanto, é o caráter que determina o herói. E é a honra que é atacada pelos inimigos porque sabem ser o seu bem mais precioso.

Num tempo em que escasseiam heróis, porque os homens preferem o conforto, hoje fácil, ao risco, perigoso, é altura de louvar o herói que é o juiz Carlos Alexandre, agora que deixou o Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC, vulgo Ticão), e assumiu funções como desembargador do Tribunal da Relação de Lisboa, salientando o seu sobre-humano e brilhante serviço de cerca de 18 anos nesse tribunal, com a espada cega da justiça e o cumprimento integral do Direito. Sem a sua bravura e abnegação não teria sido possível investigar, expor e responsabilizar, a corrupção de Estado, os seus autores e cúmplices. E fê-lo enquanto o poder político e as suas antenas na magistratura lho consentiram. Tudo tentaram para o derrubar: perseguição pessoal e familiar, ameaças, difamações, processos disciplinares, censuras, interferências. A tudo resistiu. Até que diluíram as competências do Ticão para um Tiquinho, lhe colocaram uma antena, lhe desvirtuaram a ação e finalmente empacotaram de magistrados.

Creio que a melhor homenagem que o corrupto poder do Estado socialista lhe prestou foi preterir a sua candidatura a procurador europeu, em julho de 2023, escolhendo outro candidato.

Na função de juiz de instrução do TCIC, por onde passavam os processos de corrupção política e os grandes casos judiciais, tal como nos tribunais por onde passou e nas instâncias superiores onde agora exerce, Carlos Alexandre honrou a Lei, o Direito e o Estado. Vítima de perseguição sistémica, de intercepção e de vigilância ostensiva da estrutura de informações, de assalto e de ameaças, resistiu à pressão, sobreviveu e decidiu, com a consciência do dever, a resistência moral, o labor incansável, o fulgor intelectual, a memória de computador, o domínio do Direito e o conhecimento processual insuperável perante advogados influentes, a coação política desavergonhada, o colaboracionismo e a inveja de pares submissos, a serventia abjeta de canetas de aluguer e editores de confiança do poder, e a insídia secreta da Maçonaria.

Beirão rijo e direito, franco, infatigável, sem medo de gente graúda e de alpaca, de corredores e de antros, vivíssimo e agudo, tenaz como uma tenaz sobre o crime, meticuloso na descoberta e relação dos factos com outras causas e os mesmos figurões, com desprezo pela ameaça de grupos económico-financeiros e pelo comércio dos grandes escritórios, não cedeu ao polvo político, erguendo, sem soçobrar, a espada cega da justiça e reequilibrando a sua defraudada balança desta virtude cardeal.

Contra toda a podridão e todos os venais abusadores do Estado, como juiz de instrução do nuclear TCIC, dignificou a missão e nobilitou a magistratura portuguesa da anterior condição de ajudante de campo do poder executivo e criada de servir das casas económico-financeiras.

Exerceu sem soberba perante advogados, sem arrogância perante testemunhas, sem desleixo com a necessidade de provas dos procuradores e a conduta das polícias, sem atropelo das leis e normas processuais, sem a humilhação de arguidos a quem garantia legal e humanamente os seus direitos. Nesta missão de exercício da autoridade do Estado perante os sujeitos e agentes processuais, desempenhada de modo humilde mas sem tergiversação, pode lavrar-se a sentença moral de que Carlos Alexandre reabilitou, pelo exemplo, o pilar da justiça que a promiscuidade política havia arruinado, mas que é indispensável à segurança do Estado de direito democrático e à confiança dos cidadãos. Neste sentido, na independência da magistratura, há um antes e um depois de Carlos Alexandre.

Daqui, deste cais inconveniente ao pântano político, tal como antes no rincão livre Do Portugal Profundo, agradeço o serviço patriótico do juiz Carlos Alexandre.


António Balbino Caldeira
Diretor

Daqui, deste cais inconveniente ao pântano político, tal como antes no rincão livre do Portugal profundo, agradeço o serviço patriótico do juiz Carlos Alexandre.

Há diversos indícios de que a indústria de fabrico e instalação de aerogeradores na Europa (e não só) pode estar a entrar numa grave crise – segundo notícias veiculadas por vários órgãos de comunicação nacionais e internacionais.

“A Siemens Energy afundou-se em bolsa na manhã desta sexta-feira [23-6-2023], com as ações da empresa alemã a cair mais de 30% logo no arranque do mercado, como reação ao comunicado feito pela empresa na quinta-feira à noite, reconhecendo novos problemas técnicos nos equipamentos eólicos da subsidiária Siemens Gamesa, um dos maiores fabricantes do mundo de aerogeradores” – segundo notícia do mesmo dia no jornal nacional Expresso.

Também a gigante dinamarquesa Oersted está em dificuldades, segundo notícia de 30-10-2023 no órgão britânico Energy Voice. A mesma fonte dá conta que na China, o fabricante de turbinas Xinjiang Goldwind Science and Technology perdeu 98% dos lucros do terceiro trimestre e a gigante norueguesa de energia Equinor ASA assumiu um prejuízo de 300 milhões de dólares em projectos eólicos offshore nos EUA.

As dificuldades que a indústria eólica está a enfrentar devem-se ao facto de ser uma indústria de capital e de trabalho intensivos, além de depender de grande quantidade de matérias-primas cujos preços têm subido como o aço, cobre, terras raras e até mesmo o petróleo.

A inflação faz subir os custos de materiais e mão-de-obra e as taxas de juro fazem subir os encargos de capital; e assim sobe também o custo do MW de potência instalada.

Os fabricantes apontam como solução para esta crise o levantamento de obstáculos aos projectos, maiores incentivos dos governos às eólicas e ainda o encarecimento geral da electricidade de modo a viabilizar os projectos de instalação de eólicas, invocando a narrativa climática da necessidade de abandono dos combustíveis fósseis.

O Inconveniente, em artigo de investigação de 3-7-2023, já prevenira que a subida do custo do capital tornaria as energias verdes mais caras, ou seja, menos atractivas.

Henrique Sousa

Editor para Energia e Ambiente do Inconveniente

A inflação faz subir os custos de materiais e mão-de-obra e as taxas de juro fazem subir os encargos de capital; e assim sobe também o custo do MW de potência instalada.

Nas últimas semanas temos visto imagens, publicações e vídeos suficientes para perceber a gravidade do mais recente conflito.

De quem é a culpa do que está a acontecer em Israel e na Palestina? Em que lado confiar? A resposta varia tendo em conta a escala de análise e as nossas crenças.

Se por um lado se disser que os ataques terroristas do Hamas são condenáveis, sabendo que pessoas inocentes foram mortas de variadas formas, por outro deve-se afirmar que a tentativa de limitar água, comida e bens de primeira necessidade a uma população com milhões de pessoas é condenável pela punição coletiva.

A tentativa de contenção da resposta israelita, quanto ao seu grau de agressividade, reflete uma intervenção dotada de preocupação por parte dos EUA relativamente a uma eventual escalada do conflito e degradação da opinião pública, que poderá eventualmente discordar da justificação do direito à defesa até às últimas consequências. Prova disso é que a maioria dos países, numa escala global, já demonstrou limitações quanto a um eventual apoio incondicional aos objetivos de Israel neste conflito.

Uma vez condenadas as partes, convém perceber o motivo pelo qual os recentes ataques aconteceram. Se por um lado é da conveniência do Hamas continuar a ter uma causa que justifique a sua existência, a oposição a Israel, as bandeiras religiosas e ideológicas também entram em campo. O nível de análise sai da escala micro para uma escala macro, onde se enquadram as motivações de reclamação da terra outrora dominada por árabes e que hoje se encontra sob domínio israelita, quando incluímos a longa história do conflito.

Não justifica o ato em si, mas dá uma explicação do porquê de ter acontecido dado que ambos os lados são duas locomotivas movidas por elementos que esbarram impulsos irracionais da mais natural ordem de preservação tribalista e identitária. Com isto afirmo que uma solução de dois Estados é praticamente impossível. Se os palestinianos abandonarem a sua luta contra a ocupação israelita por quererem uma “paz” contrastante com uma oposição às pretensões expansionistas de uma parte da classe política israelita, a sua identidade será diluída com o passar do tempo. O mais curioso nisto são os partidos da extrema-esquerda ocidental como o Bloco de Esquerda que se queixam da “substituição demográfica” na região, mas apoiam o conflito demográfico que existe atualmente na Europa. Simultaneamente, se amanhã o território de Israel passasse a ser palestiniano de forma consentida, simbolizaria uma desistência na luta pela vitória da sua identidade, segurança e existência.

Quem desistir do objetivo de supremacia na região ou for demograficamente reduzido a uma insignificância, ficará para a história como perdedor. Perante este cenário, os atos para vencer são vistos como ética e moralmente justificáveis na ótica de quem os perpetua, e só com uma análise distante e desnutrida de parcialidades é que poderemos chegar a essa conclusão. Realisticamente falando, quem acha a conciliação possível deve afirmar ser crente na hipótese de que é razoável negociar com quem deseja a nossa inexistência, algo que existe dos dois lados por mais enviesada que seja a opinião do leitor, e isso é algo no qual eu não acredito.

Recapitulando sobre as bases do conflito num intervalo moderno, vários episódios contribuíram para um crescimento exponencial do multiculturalismo na região:

Desde o primeiro congresso sionista em 1897, liderado por Theodor Hurtzel, passando pela influência de peso da família Rothschild em criar um Estado judeu após a vitória dos Aliados na 1ª Guerra Mundial através da Declaração de Balfour, contando com um temporário apoio à imigração no pré 2ª Guerra Mundial por parte do Terceiro Reich através do Acordo de Transferência (Tratado de Havara) e finalizando com a Aliyah (imigração da diáspora) pós 1948, tivemos vários eventos que contribuíram para essa transformação. O denominador comum é a presença ocidental enquanto força promotora deste resultado.

Independentemente desta evolução que ainda hoje influencia a região, um palestiniano não mente ao afirmar que os seus antepassados viveram durante séculos naquela terra. Da mesma forma que a Ucrânia resiste à ocupação russa, é impossível dizer para estas pessoas, muitas delas com familiares mortos nas últimas décadas, simplesmente abdicarem do que acreditam e da terra dos seus ascendentes.

E o mesmo não acontece para o lado israelita? Ora, se um judeu sionista acredita que é um eleito de Deus para deter a Terra Sagrada, e que inclusive é do seu interesse material ampliá-la (veja-se o caso do Plano de Grande Israel que leva os seus apoiantes a almejar a ocupação dos vizinhos regionais de Israel), não serão as minhas palavras a convencê-lo de que se deve enfraquecer, deixar de acreditar nas suas crenças e defender a sua identidade. Se essa pessoa o fizesse, estaria a ser incompetente e um mau contribuinte histórico para o seu povo.

Perante isto, quem apoiar? Perante este cenário quem é que nós enquanto povo devemos apoiar?

A resposta não é difícil: nós mesmos.

O Ocidente já provocou demasiados estragos ao brincar às fronteiras retilíneas, substituições demográficas e invasões em prol da exportação da democracia liberal. Os estragos não ficarão por aí se continuarmos a criar justificativas para milhões de refugiados entrarem na Europa. Talvez, só talvez, não caiba aos países europeus gastar energias na decisão do futuro de uma região que não quer ter dois Estados.


Francisco Pereira Araújo

De quem é a culpa do que está a acontecer em Israel e na Palestina? Em que lado confiar? A resposta varia tendo em conta a escala de análise e as nossas crenças.