Seca vai encarecer a eletricidade ainda mais

Portugal encontra-se numa situação em que a seca impede as hidroelétricas de funcionar, o que pode provocar escassez de eletricidade ao ter de ser importada de Espanha, Marrocos, Argélia, Nigéria, etc., já sob a forma elétrica (cara em horas de ponta) ou de gás natural (muito mais caro que o carvão) para abastecer as centrais térmicas a gás.

As hidroelétricas constituem em geral equipamentos com uma vida útil bastante longa (superior a 80 anos) pelo que o seu regime de funcionamento não afeta a sua disponibilidade desde que haja água para ser turbinada. Nos contratos de concessão das hidroelétricas consta que podem ser impedidas de funcionar em caso de escassez de água.

No caso das eólicas porém, estas funcionam sempre que haja vento suficiente e os contratos respetivos dão-lhes garantias de que a energia produzida será aceite e paga pela rede a preços vantajosos em relação ao preço que realmente custa. O custo é determinado apenas pelo investimento, manutenção e interesses de capital e pela energia que produzem durante a sua vida útil estimada em cerca de 20 anos. Geralmente ao fim de 20 anos, mesmo que a máquina possa funcionar ainda, terminam os contratos com preços subsidiados e os custos de manutenção sobem.

Se, por hipótese, as eólicas pudessem ser impedidas também de funcionar quando a sua energia não fosse necessária, que consequências traria aos seus proprietários? Estes não poderiam talvez satisfazer os compromissos de capital e juros mas, em contrapartida, a vida útil da máquina seria prolongada do tempo em que estariam paradas sem necessidade de manutenção. Assim, não se nos afigura disparatado que as eólicas possam suspender o seu funcionamento, permitindo que as centrais a carvão pudessem ter continuado a operar com uma boa utilização. Apenas teriam que ser revistos os prazos de subsidiação, amortização e juros.

O que é que Portugal ganhou com o encerramento das centrais a carvão? Ser considerado na União Europeia como “aluno exemplar”? Beneficiou de fundos de apoio para desmantelar centrais a carvão? Agora que a seca lhe bate à porta, bem precisava daquelas centrais para colmatar a ausência da energia hidroelétrica.


Henrique Sousa

Editor para Energia e Ambiente do Inconveniente

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Sub-diretor do Inconveniente

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