Revolução dos Cravos e dos “escravos”

Este ano, o 25 de Abril é marcado por um lapsus linguae.

Nas vésperas do 25-4-2022, no comentário habitual de Marques Mendes num dos canais do regime, a legenda que acompanhava o programa contextualizava os espetadores da seguinte forma:

“Assinala-se [sic] 48 anos da revolução dos escravos [sic]”.

Curiosamente, o “sic” ganha duplo significado: até o latim – “sic” significa “assim” ou “tal e qual” – parece escarnecer do nome do canal.

Mas detenhamo-nos nos 48 anos de Revolução que hoje se assinalam. O programa revolucionário dos três D (Democratizar, Descolonizar e Desenvolver) teve um resultado variado.

A democratização foi cumprida após o fracasso do golpe comunista de 25 de novembro de 1975 que consolidou a democracia representativa e pluralista.

A descolonização foi realizada à pressa, sob pressão da esquerda, dos comunistas que queriam a transição imediata de 4% de território do mundo para a órbita soviética e do Partido Socialista, de Mário Soares e Almeida Santos, que pretendia aliviar-se do fardo colonial para estabilizar o novo regime democrático.

O desenvolvimento teve um resultado medíocre no Portugal europeu e funesto no Ultramar.

Nas províncias ultramarinas, só Cabo Verde alcançou alguma evolução económica. Em Angola e Moçambique foi interrompido o progresso económico fulgurante e após as guerras civis, apesar dos enormes recursos naturais, não se refez o crescimento anterior e muito menos se melhorou o bem-estar do povo, que vive na miséria com exceção das elites políticas.

A Guiné permanece sujeita ao tribalismo e ao tráfico de droga realizado por estruturas do Estado. Em São Tomé Príncipe foi abandonado o trabalho do cacau e continuam a ser desperdiçados os recursos agrícolas e turísticos. Timor sofreu o horror da colonização indonésia e ainda não conseguiu transmitir a oportunidade do petróleo e do comércio ao bem-estar do povo.

Perdido o Império, o crescimento económico foi suspenso pela caótica transição para o socialismo marxista, com custosas nacionalizações e desestabilização laboral. O choque da entrada na união aduaneira das Comunidades Europeias e na união monetária provocou uma crise económica que só foi ultrapassada fugazmente em meados da segunda década do novo século.

O crescimento da receita turística foi travado pela emergência da Covid-19. O Partido Socialista infestou o Estado com uma corrupção permanente, com a contrapartida da subvenção longa do desemprego, do rendimento mínimo da desocupação e das reformas douradas da função pública e as conquistas dos costumes liberais (divórcio, união de facto, aborto, casamento homossexual, adoção por casais homossexuais, eutanásia) na Nação Fidelíssima.

O Portugal Socialista é um país pobre, com muito boas estradas (o que foi aproveitado dos subsídios da União Europeia), com grande melhoria na educação, na saúde e na habitação, e proteção social, mas com uma economia atrofiada pela corrupção ao nível central e local.

Poderia dizer-se daqueles que hoje assinalam o socialismo da Revolução de Abril de forma atávica: são os mesmos que desprezavam aqueles que atavicamente assinalavam a Revolução de Maio no final do período do Estado Novo.

A liberdade prometida sucumbiu à repressão politicamente correta, também à pala da pandemia da Covid.

E se, todavia, os velhos cravos do socialismo murcharam, os novos escravos do politicamente correto sonham com a verdadeira alforria.


Maciel Rodrigues
Diretor-adjunto

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Latest comments

  • Alguém disse que depois das revoluções, os povos descobrem que a única coisa que mudou foram os tiranos.

  • amen (sou ateu)

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