Quem tem CCUS tem medo

“Quem tem cu tem medo.”

Frase atribuída a Bocage


CCUS é o acrónimo para Carbon Capture, Utilisation and Storage que, traduzido para português, significa captura, utilização e armazenamento de carbono.

Se as energias eólica e solar são os meninos de ouro de uma economia sem carbono, a CCUS é a ovelha negra das medidas necessárias para atingir as metas de descarbonização visadas pelo lóbi climático até ao ano 2050, segundo notícia da Reuters.

O objetivo climático-político fixado no acordo de Paris para o ano 2050 é não deixar a temperatura global média subir mais do que 1,5 ºC em relação à média da era pré-industrial. Não sabemos como é que os cientistas climáticos e políticos chegaram a este valor mas parecem saber qual é a temperatura média exacta do planeta para que continue a permitir a vida humana tal como vem permitindo desde há milhões de anos, com temperaturas médias muito variadas.

Os ativistas climáticos também consideram, ou têm mesmo a certeza, que o elemento perturbador da temperatura na Terra é o Homem. Donde lhes vem esta convicção?

Tendo sido constatado em laboratório que o CO2 (e outros gases) é mais ou menos opaco à radiação infravermelha, radiação de calor, ela ficaria impedida de sair da Terra e faria aumentar a sua temperatura. Inferiu-se daí que a temperatura da Terra e a concentração de CO2 na atmosfera caminhariam a par, sendo que o aumento da concentração de CO2 seria a causa do aumento da temperatura na Terra.

Pesquisas em camadas de gelo de épocas passadas mostram que essa correlação existe, embora seja difícil estabelecer se é o aumento de CO2 que faz subir a temperatura ou o contrário, isto é, se o aumento de temperatura é que faria subir a concentração de CO2, uma vez que os oceanos, ao aquecerem, libertam CO2 nele dissolvido. Mas pode haver também uma realimentação positiva ou o chamado efeito bola de neve, ou seja, o aumento de CO2 fazer subir a temperatura, a temperatura fazer aumentar ainda mais o CO2, e assim por diante.

Nos círculos climáticos, esta questão não se põe ou terá sido já ultrapassada pela conveniência dos negócios baseados na descarbonização da Terra.

E não basta produzir energia através de fontes livres de carbono como o vento e o sol porque há indústrias como as cimenteiras e as siderúrgicas que emitem um quinto do CO2 global e a sua descarbonização passa pelo CCUS.

O CCUS está a ser levado bastante a sério pelos descarbonizadores e é visto como uma forma de ajudar a eliminar as atuais 35 gigatoneladas de emissões globais de carbono até 2050, em conjunto com a instalação de mais eólicas e painéis solares, cuja capacidade terá que sofrer um enorme aumento para suprir a maior parte da eletricidade global até meados deste século.

O CO2 removido das indústrias pelos CCUS poderá depois ser usado noutros processos industriais ou comprimido e armazenado em local seguro como os poços de petróleo já esgotados.

Os climáticos assumem que os CCUS vão desempenhar um papel importante num futuro próximo. Para atingir as metas de 2050, a Agência Internacional de Energia (IEA) estima que o volume de carbono capturado por ano tem que aumentar 200 vezes, de 40 milhões de toneladas atualmente para 8 gigatoneladas.

A Energy Transitions Commission,um laboratório de ideias presidido pelo ex-regulador financeiro do Reino Unido, Adair Turner, estima que governos e empresas precisam gastar 5 bilhões de dólares em CCUS até 2050 para criar a capacidade suficiente para toda essa remoção de carbono.

Já existem 16 projetos de CCUS identificados pela IEA em todo o mundo e que representam 27 mil milhões de dólares de investimentos para armazenar 80 milhões de toneladas de carbono.

A emissão de uma tonelada de carbono já custa hoje 30 dólares às indústrias em impostos climáticos. Mas a captura, reutilização e armazenamento poderá vir a custar mais de 100 dólares por tonelada.

Para haver viabilidade para os projetos de CCUS já planeados e que visam, alegadamente, contribuir para que a temperatura global média da Terra não ultrapasse 1,5 ºC até ao ano 2050, o custo das emissões de carbono terá de ser aumentado para mais de 100 dólares por tonelada.

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Sub-diretor do Inconveniente

Latest comments

  • A gaita, é que a redução em mais de 20% de consumo de hidrocarbonetos provocada pela peste chinesa no último ano não fez qualquer mossa na velocidade de subida de CO2 atmosférico.

    Pergunta-se, se >20% de corte nas emissões de CO2 provocam 0% de atenuação no ritmo de subida da respectiva concentração atmosférica, em quantos milhares de pontos percentuais se tem que cortar para conseguir que essa atenuação se torne evidente?

    https://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/

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