Portugal: o nosso fado é combater

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Segundo a ciência politicamente correta, o aumento da concentração de dióxido de carbono (e outros gases) na atmosfera é responsável pelo aumento do efeito de estufa que faz aquecer globalmente o planeta Terra, acarretando diversos fenómenos como o degelo das calotes polares, subida do nível da água do mar, furacões cada vez mais potentes, etc. Um rol de calamidades, cuja lista é cada vez mais longa. Só falta dizer que a Covid-19 também se deve às alterações climáticas.

O aumento do dióxido de carbono na atmosfera resulta, como é óbvio, das atividades humanas como a produção de energia, de bens diversos e de alimentos. Na pecuária, por exemplo, além de dióxido de carbono, produz-se o metano, outro gás que contribui muito para o efeito de estufa.

Sem entrar na discussão da alteração de comportamentos necessária para o combate às alterações climáticas, que hoje já tem laivos de uma nova religião, analisemos os resultados de Portugal nesta missão ambiciosa da redução das emissões de dióxido de carbono em que o consumo de energia é o principal responsável.

Se 23,69% da energia que consumíamos em 1965 era de origem renovável (hídrica), passámos a consumir 23,33% de energias renováveis em 2020 (hídrica, eólica, solar e outras). Ou seja, a percentagem de energias renováveis é a mesma de há 55 anos ou levemente menor. O consumo de combustíveis fósseis baixou de 76,31% para 75,55%. Também é quase a mesma percentagem mas, se juntarmos os biocombustíveis e biomassas, outras fontes de CO2, a percentagem de combustíveis poluentes é maior em 2020 do que em 1965.

Em termos absolutos, passámos de um consumo total de 50 TWh em 1965 para 290 TWh em 2020, quase seis vezes mais. O consumo per capita também é cerca de seis vezes maior, pois a população tem-se mantido sensivelmente constante e a percentagem de combustíveis fósseis também.

Uma vez que as emissões de dióxido de carbono são proporcionais ao consumo de energia, entre 1965 e 2020 estas emissões também sextuplicaram. Em 55 anos…

Resta saber se as opções energéticas por que estamos a enveredar, como o abandono do carvão em prol do gás, aumento da potência instalada de renováveis, produção de hidrogénio a partir da energia solar, trarão menos dióxido de carbono, menos efeito de estufa e menos aquecimento.

Porque, segundo António Costa, um grau a mais de temperatura global, faz aumentar seis vezes o risco de fogos florestais. Isso faz aumentar os gastos no combate a incêndios… E é por isso que temos que combater as alterações climáticas, custe o que custar! Nem que custe seis vezes mais!

Perguntarão os leitores, com razão, porque é que Portugal não utiliza mais o combustível das florestas com a dupla vantagem de substituir os fósseis e evitar que elas ardam todos os anos sem qualquer benefício, antes pelo contrário, libertam CO2 e o combate dos incêndios sai-nos muito caro?

António Costa explica: “Para compensar as emissões de gases de efeito de estufa que existirem, aposta-se na floresta como sumidouro ou forma natural de absorvê-las”. Mas, uma vez capturados pela floresta, liberta-se deixando-a arder num combate inglório em que muitos já perderam a vida.

Todavia, como o nosso destino é combater, combatemos os fogos, combatemos as alterações climáticas… Como se não bastasse, combatemos agora também a Covid. Que mais combates teremos pela frente? Avizinha-se o combate à miséria, combate à fome…

Portugal nasceu a combater e há-de morrer a combater. É o nosso fado!…


Henrique Sousa

* Os dados de consumo de energia citados foram obtidos do site Our World in Data.

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Sub-diretor do Inconveniente

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