Portugal e a (in)suficiência energética

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É desnecessário referir que Portugal não é auto-suficiente em relação à energia. De facto, importa uma boa parte da energia que consome – gás natural, petróleo e eletricidade – e, entre as fontes de energia endógenas, contam-se a energia hídrica, eólica, solar, biomassa sólida e biocombustíveis. Segundo a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), no seu balanço provisório sintético de 2021, Portugal ainda dependia, em 2021, em 70% de energia importada, um pouco menos se se incluir a energia do ambiente que é retirada pelas bombas de calor. Estes dados foram retirados do balanço já referido da DGEG.

Em 2012, a dependência energética era de 80% donde se conclui que houve efetivamente uma redução da dependência energética, principalmente em 2020 onde caiu para 67%, tendo recomeçado a subir em 2021, quiçá por efeito da pandemia.

Essa dependência energética é relativa a países de várias regiões do mundo, conforme se pode ver no gráfico dado a seguir, da fonte já citada. A Nigéria é o país de que Portugal mais depende (20,8%), mas a dependência da Rússia (6,7%) não é desprezável e requer a substituição por outras importações (mais caras) ou a redução do consumo primário para ir de encontro ao plano da Comissão Europeia de cedência de 15% das nossas importações energéticas de gás – 3,6% das necessidades totais de energia – para o resto da Europa. Como as importações da Rússia deixaram de se fazer, Portugal deixaria de dispor de 10,3% das suas atuais necessidades energéticas.

O consumo de energia primária, por tipo, vem dado no gráfico seguinte da mesma fonte, que mostra que o petróleo e o gás natural têm a fatia de leão, sendo responsáveis por cerca de 64% da energia primária de que necessitamos:

A maior dependência em relação aos derivados do petróleo deve-se em grande medida à estrutura do consumo, como se pode ver neste outro gráfico da mesma fonte:

Se a dependência energética de Portugal se situou entre 80 e 70% (de 2012 a 2021), significa que apenas consegue suprir entre 20 e 30% das suas necessidades. De facto, a maioria dos projetos de energias renováveis destina-se à produção de eletricidade e esta é apenas 25,5% do consumo final da energia, como se pode ver noutro gráfico da mesma fonte:


E é de destacar que a contribuição das fontes endógenas (hídrica, eólica, solar e biomassa) na produção de eletricidade tem sempre que ser complementada pelo gás (o carvão foi posto de parte) ou por importação de eletricidade de Espanha, de quem dependemos ao todo em 6,3%, quase o mesmo do que dependíamos da Rússia.

Desta breve análise resulta que Portugal, se ceder à pretensão da Comissão Europeia de prescindir de 15% do GNL dos contratos de longo prazo, terá que optar por energia mais cara – se houver e a Europa não impuser racionamentos, além de ter de enfrentar as consequências económicas do encarecimento da energia.

No dia 18 de Julho entraram em funcionamento duas centrais do complexo hidroelétrico do Tâmega que poderão contribuir para substituir eletricidade produzida a partir do gás e melhorar a utilização das energias intermitentes dada a capacidade de armazenamento por bombagem que aumentou em 30%. Isto poderá mitigar o défice de GNL que a Europa pretende que se poupe afim de favorecer os países mais a Norte numa espécie de “swap”, isto é, por desvio dos abastecimentos que chegam a Portugal.

Segundo os últimos desenvolvimentos Portugal, bem como outros países da UE, ficam de fora do plano de poupança de gás da CE devido a especificidades várias, entre as quais a inexistência de interligações, a forte dependência do gás na produção de eletricidade, etc.. Em caso de emergência Portugal poderá, porém, ter de reduzir a importação de gás, a única fonte de que dispõe agora para satisfazer o consumo da energia elétrica de forma contínua e de que necessita para consumos, doméstico e industrial, diretos.

Uma vez que o corte de gás para a indústria e consumo doméstico seria desastroso, numa eventual redução da importação de gás, parece inevitável substituir a produção de eletricidade a partir do gás com a reativação (mesmo que parcial) das centrais a carvão precocemente encerradas.

Henrique Sousa

Editor para Energia e Ambiente do Inconveniente

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Sub-diretor do Inconveniente

Latest comments

  • 💥💥💥👍

  • Se houvesse forma de aproveitar os incèndios para produçàò de energia….

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