Porque temos eletricidade cara – II

Em artigo anterior, mostrou-se que as energias eólica e solar não conseguem substituir potências firmes de centrais capazes de acompanhar a procura em qualquer situação. Isto significa que podemos chegar a ter o dobro de potência total instalada em relação à que seria necessária para responder à procura. O que se traduz num investimento muito superior em centrais, térmicas e renováveis.

Segundo dados da REN, Portugal tem uma potência total instalada em centrais de produção de eletricidade de 20 GW quando a ponta da procura não excede os 12 GW. Se se retirassem os 6,5 GW das eólicas e solares, os restantes 13,5 GW seriam suficientes para responder à procura. Verifica-se ainda que a potência das centrais a gás (4,5 GW), que garantem o preenchimento do diagrama aleatório da procura, podia ser menor porque a energia que produzem é muito mais cara que a do carvão (da ordem de duas vezes mais).

Tomando o mesmo exemplo que demos do mês de junho de 2022 no artigo referido anteriormente, podemos ver que uma potência de base de 4GW de centrais a carvão, podia produzir três quartos da energia necessária a um custo de cerca de 50€/MWh, enquanto um quarto podia ser fornecida por centrais de ponta como as a gás a 100€/MWh. O preço de custo médio seria assim de 62,5€/MWh ou menos se considerarmos a contribuição das hídricas que, por terem uma vida útil de várias décadas, produzem energia a baixo custo.

Com a expulsão do carvão do sistema produtor, que fica reduzido ao renovável (barragens, eólicas e residualmente as fotovoltaicas), ao gás e à importação, o custo da produção (ou importação) de energia subiu para 100€/MWh. Das renováveis, apenas a hídrica poderá suavizar o custo final. O custo da energia eólica e solar é quase impossível de ser calculado porque se encontra politicamente mascarado com os apoios oficiais, tarifas, contratos, etc.. Só nos podemos basear no preço que a rede é obrigada a pagar aos produtores pelo MWh e que excede em muitos casos os 150€/MWh.

Como o preço ao consumidor sobe para o dobro do preço de custo*, teremos, na situação carvão+hídricas+gás, um preço de 12,5 cêntimos por kWh e na situação gás+hídricas+eólica+solar+biomassa, um preço mínimo de 20 cêntimos por kWh, ou seja, 60% superior. Naturalmente, o consumidor julga estar a pagar menos porque a diversidade de tarifas, de comercializadores, etc., podem oferecer 15 cêntimos por kWh mais a taxa diária de potência, mais impostos e outras taxas, etc.. A verdade é que pagará em média 20 ou mais cêntimos por kWh

* No preço de venda do kWh para uso doméstico, 47% correspondem a Custos de Interesse Económico Geral (28%) e taxas e impostos (19%). Os Custos de Interesse Económico Geral são uma forma de incluir os sobrecustos da geração intermitente. Vide neste documento da ERSE.

Henrique Sousa

Editor para Energia e Ambiente do Inconveniente

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Sub-diretor do Inconveniente

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