Pandemia: o recado mal entendido

image_pdfimage_print

O mundo à beira da paralisação total por causa de um vírus que ninguém sabe como surgiu, se de um laboratório chinês, de um morcego ou de um vampiro, para cuja doença as autoridades dizem que não há remédio eficaz para prevenir nem para tratar, restando apenas medidas protocolares de isolamento, afastamento, máscaras, álcool-gel, bloqueio, recolher obrigatório, proibições várias, instauração da censura para quem não concorda, etc. Tudo a bem da Nação como nos tempos da “outra senhora”.

Todas as medidas tomadas tiveram como motivação principal, não a saúde da população em geral, mas a falta de recursos dos sistemas de saúde e a proteção dos profissionais de saúde. Se estes fossem suficientes e estivessem devidamente protegidos, não haveria motivo para recear uma grande vaga de infeções que traria, em curto espaço de tempo, uma imunidade de grupo e o fim rápido da pandemia, mesmo sem vacinas ou tratamentos.

É sabido que a taxa de letalidade do vírus é de cerca de 2%, ou seja, dos infetados que adquirem doença grave, cerca de 2% morre. Mas o problema é que o sistema de saúde ia rebentar pelas costuras se os casos de doença grave tivessem que ser atendidos num curto espaço de tempo.

A questão do sistema de saúde já não se põe e, segundo parece, os hospitais de campanha nem foram necessários. A ajuda dos alemães a Portugal no pico de janeiro-fevereiro foi mais show-off do que real necessidade: 26 profissionais de saúde, dentre eles 8 médicos com 40 ventiladores.

Portanto, o “aplanar da curva” serviu para prolongar a epidemia no tempo, sem redução significativa da mortalidade. Houve contenção das infeções, mas estas continuaram a avançar e acabarão por infetar grande parte da população, pelo menos a que não estiver ainda imunizada.

A maioria dos países não conseguiu conter a pandemia, apenas contribuiu para prolongá-la no tempo, sem poupar muitas vidas. Mas enfrentam agora uma grave crise económica cujas consequências podem ser perversas.

De acordo com este artigo de 1-6-2021, houve países que foram muito mais radicais nas suas medidas como a Maurícia, Nova Zelândia, Islândia, Singapura, Vietnam (e China) e terão tido reais benefícios sanitários. Porém, os USA, Brasil, Índia, México, Reino Unido (e Portugal) não conseguiram esses benefícios sanitários e estão a sofrer enormes prejuízos económicos.

É cedo ainda para tirar ilações sobre qual a melhor estratégia de combate à pandemia. Entre a estratégia de medidas drásticas (com reais ganhos sanitários) e a de medidas suaves (com menos perdas económicas), houve diversas variantes a que se somaram erros com decisões não tomadas a tempo, informação deficiente, entre outros. Em Portugal assistimos, por exemplo, ao resultado do desleixo do Governo com o Natal e com a eleição presidencial.

Retomando uma comparação que tem sido feita desde o início da pandemia, entre Portugal e a Suécia, no nosso país já morreram da epidemia mais de 17 mil pessoas até hoje, enquanto na Suécia, menos rigorosa nas medidas, morreram cerca de 14,5 mil. Em número de total de infetados, a Suécia contabiliza mais de um milhão e Portugal cerca de 850 mil. Nos dois países já foram vacinadas cerca de 4 milhões de pessoas com pelo menos uma dose. Note-se que o número de habitantes dos dois países é muito semelhante.

Porém, a Suécia, com a economia impulsionada pelas exportações, já atingiu o nível pré-pandémico, ao passo que Portugal, segundo Bruxelas, só atinge o nível pré-pandémico a meio do próximo ano.

E este é o resultado que mais importa agora, pois as vidas, essas, infelizmente perderam-se de qualquer maneira…


Henrique Sousa

Partilhar

Written by

Sub-diretor do Inconveniente

Latest comments

  • Nada a dizer sobre a leitura dos números relativos à pandemia.
    Muito sobre a diferença abissal entre Portugal e Suécia: história, geografia, cultura etc…
    Portugal, um país onde o fogo posto se tornou endémico e parece estar bem assim. Suécia, um país onde o ambiente é um bem a preservar.

    Segundo wikipedia: «A Suécia detém o recorde mundial de áreas verdes públicas por habitante (200m² / habitante). Mais de 60% das terras são cobertas por florestas, enquanto 7% são dedicadas a áreas cultivadas. Os 33% restantes são ocupados por gelo, turfeiras e, principalmente no norte, tundra.
    Portugal ocupa pouco mais de metade do seu território pela planície (53%), 26% pela serra e 21% pela montanha.»
    “Penso, logo sou”. Diferente mentalidade corresponde a diferente agir.
    Não vou mais longe.

  • Em 2003 e posteriormente houve uma epidemia de SARS, Cov 1, ou seja síndrome de dificuldade respiratória do adulto, em 2019 surgiu esta assim classificada de pandemia pela OMS que de forma errada lhe chamou de Covid 19, provocadas tanto uma como a outra por um coronavírus, deveria chamar-se por exemplo de SARS 2. Há extensa publicação científica publicada na altura de 2003 e posteriormente quando se soube que o tratamento da doença grave era feita com corticóides a saber metilprednisolona, em pulsos, já na altura, por se saber também do tratamento da fase em que começa a haver o síndrome de dificuldade respiratória do adulto.
    https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/technical-guidance/naming-the-coronavirus-disease-(covid-2019)-and-the-virus-that-causes-it
    Só a OMS sabe porquê, seria bom começar a se questionar a actuação desta entidade e também tentar perceber por cá, como se trataram os doentes até para corrigir possíveis erros. Epidemiologicamente, continua-se a analisar a política e a culpar a população, mas a verdade é que se continua a esquecer um facto, é preciso colocar o pão na mesa, esses têm de apanhar com comboios superlotados, nas linhas de Sintra, Cascais e linha do Norte, numa coisa a que chamam nas novas medidas de zona metropolitana de Lisboa, eu não sei o que é, mas parece haver receio deste governo em nomear os concelhos que estão pior nesta dita zona.
    Continuamos como há um ano, esta variante é apenas mais rápida a infectar e é uma questão de ecologia e pressão de selecção viral que vá substituir a chamada inglesa, nada de fora do comum, apenas o facto deste vírus continuar a usar os humanos como hospedeiros e não passar a circular como qualquer vulgar corona, elas já cá estavam antes da humanidade o ser.

deixe um comentário