O terror comunista de 1974-75: o papel do PCP

O papel dos comunistas – estalinistas (PCP), leninistas (MES), maoístas e troskistas – no terror após a revolução do 25 de Abril de 1974, e especialmente entre o 28 de setembro de 1974 e o 25 de novembro de 1975, tem sido coberto pelo silêncio dos média e fumo denso da desinformação.

É como se esses abusos não tivessem acontecido. Mais: esse período é usualmente descrito nos média de modo romântico, heróico e de júbilo, ignorando o sofrimento de grande parte da população que não alinhava na marcha para o socialismo.

A publicação, em 2-3-2021, do “Relatório da Comissão de Averiguação de Violências sobre Presos Sujeitos às Autoridades” (mais conhecido por Relatório das Sevícias), cuja transcrição das partes mais importantes já iniciámos, veio expor os crimes de terror que os marxistas têm pretendido apagar.

Os abusos referidos em detalhe no relatório foram dirigidos e realizados pelos seguintes organismos: Serviço de Coordenação da Extinção da PIDE/DGS e Legião Portuguesa; Serviço Director e Coordenador da Informação-SDCI; Comissão ad hoc para o “28 de Setembro”; Comissão de Inquérito ao “11 de Março”, Gabinete do Primeiro Ministro Vasco Gonçalves; e Gabinete do Almirante Rosa Coutinho.

Neste artigo, vamos expor a intervenção dos comunistas estalinistas ligados ao Partido Comunista Português (PCP). A intervenção mais obscura do leninista Movimento da Esquerda Socialista (MES) nestes eventos está ainda mais tapada com a poeira atirada pelas pás dos protagonistas que conseguiram, com êxito quase completo, apagar a sua participação nos acontecimentos revolucionários, com relevo maior para o 25 de novembro de 1974, e juntar-se ao sistema.

As correntes comunistas maoístas e trotkistas tiveram também grande intervenção nestes factos e eventos, mas essa constelação político-ideológica será focada mais tarde.

Além do Copcon, encarregado de executar as capturas de cidadãos, uma saliência especial teve o sinistro Serviço Director e Coordenador da Informação (SDCI), criado em 23-5-1975, pelo Decreto-Lei n.º 250/75 de 23 de maio. Isto, na sequência da alegada falha de informação da 2.ª Divisão do EMGFA (segundo justificação de Francisco Seixas da Costa, RTP, 13-3-2020).

Em 23-5-1975, através de Resolução do Conselho da Revolução, foi determinado que o SDCI fosse liderado pelo capitão-tenente Carlos de Almada Contreiras, acolitado pelo major José Gabriel Coutinho Pereira Pinto e e capitão Luís Ernesto Albuquerque Ferreira Macedo – e onde também pontificavam outros oficiais comunistas como Ramiro Correia, Pereira Pinto e Manuel Marques Pinto.

O comandante Ramiro Correia chefia depois a 5.ª Divisão do EMGFA e dirige as famosas Campanhas de Dinamização Cultural e Esclarecimento Cívico do MFA, de caráter totalitário e ao modo soviético de lavagem ao cérebro.

O SDCI era um prolongamento do que antes era realizado pelo “gabinete de Primeiro Ministro” (Vasco Gonçalves) e pelo “Gabinete do Almirante Rosa Coutinho”. Neste último tinha sido congeminada a desinformação da Matança da Páscoa (com listas de personalidades a abater em cada concelho) – com a colaboração do MPD/CDE, controlado pelo PCP – passada aos serviços secretos espanhóis e que fizeram o general Spínola lançar o mal preparado e falhado golpe militar do 11 de março de 1975.

Vasco Gonçalves e Rosa Coutinho eram as figuras de maior relevo no grupo de oficiais do PCP no MFA.

Vasco dos Santos Gonçalves, coronel de Engenharia à data do 25 de Abril, um extraordinário tribuno, foi primeiro-ministro do II, III, IV e V Governos Provisórios, de 18-7-1974 a 19-9-1975.

António Alva Rosa Coutinho, capitão-de-fragata aquando da Revolução, que havia feito carreira nos navios hidrográficos, teve o percurso militar atribulado por ter sido capturado, na guerra do Ultramar, numa missão de pesquisa no rio Zaire, por guerrilheiros da FNLA, e levado para uma base no país vizinho do norte, onde este detido durante meses até a sua libertação ser negociadae onde alegadamente foi sodomizado. Por ser o oficial mais antigo da Marinha envolvido no golpe militar, pertenceu à Junta de Salvação Nacional, e depois superintendeu ao Serviço de Coordenação da Extinção da PIDE/DGS e Legião Portuguesa.

Na prática, era Rosa Coutinho quem controlava o grupo militar de oficiais estalinistas, em ligação com o PCP através de Jaime Serra e, no vértice desta cadeia, o secretário-geral Álvaro Cunhal.

Na Marinha, o grupo era constituído por: Almada Contreiras, José Manuel Miguel Judas (não confundir com o ex-sindicalista e ex-presidente da CM Cascais), Ramiro Pedroso Correia, Manuel Bailão Martins Guerreiro, Jorge Correia Jesuíno e Manuel Marques Pinto.

No Exército: da arma de Engenharia, além do primeiro-ministro Vasco Gonçalves, António Arnão Metelo, José Emílio da Silva, Nuno Pinto Soares e Vítor Manuel Graça e Cunha; e da arma de Artilharia, Eduardo Dinis de Almeida, Eurico Corvacho e Manuel João Ferreira de Sousa.

Na Força Aérea, a presença de comunistas no corpo de oficiais, era muito pequena: José Inácio da Costa Martins e José Pereira Pinto (ver a este propósito, entrevista do historiador Josep Sánchez i Cervelló, ao DN, de 25-11-2005).

António Carlos Magalhães de Arnão Metelo, que foi ministro da Administração Interna do IV Governo provisório e vice-primeiro-ministro do V Governo Provisório, era um oficial gonçalvista que se destacou no apoio à sublevação comunista em Timor, com Silvério Henrique da Costa Jónatas e Francisco Mota, a qual motivou a invasão indonésia e o genocídio de cerca de 200 mil timorenses.

O oficial da Marinha Miguel Judas, foi mais tarde identificado, numa reportagem do semanário Independente, como sendo alegadamente agente do KGB e responsável do envio do arquivo da PIDE/DGS e materiais da NATO que o PCP havia subtraído.

Segundo a reportagem de Pedro Anunciação, no Expresso, Revista, de 12-3-2016, p. 30, numa das 2.000 notas que o funcionário do KGB Vasili Mitrokhin passou ao governo britânico, em 1992, pode ler-se:

“No final de 1975, a rezidentura do KGB em Portugal recebeu do PCP o arquivo dos Serviços Especiais de Portugal”.

Na página 33 desta reportagem, o jornalista cita a nota do arquivo Mitrokhin, que Vasili tomara quando recebeu o material:

“Os comunistas em Portugal deram ao KGB materiais operacionais e tarefas operacionais da polícia política PIDE/DGS do regime fascista em Portugal; do serviço de segurança SDCI criado depois de 25 de abril de 1974 e dissolvido após os acontecimentos de 25 de novembro de 1975; da 2ª Divisão do EMGFA (inteligência militar), bem como materiais com informações e materiais operacionais do PCP dos anos 1937-75. O peso dos materiais é de 474 quilos, incluindo 37 quilos recebidos a 26 de março de 1977.”

A resignação do PCP com a tomada de poder pelas forças que queriam uma democracia parlamentar e pluralista ocorre também após a independência de Angola (11 de novembro de 1975) que era o principal objetivo soviético.

A balança de forças internas pendia para o lado contrário e o contexto internacional cobrava o seu preço.

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Latest comments

  • Tenho historiaa interessantes de Angola74 etc

  • As verdades ocultas começam a vir a lume, aos comunistas e KGB,s que ainda estarão vivos, deveria ser criado um tribunal independente, se possível, um tribunal internacional , e levados a julgamento pelos crimes efectuados pos-25 de Abril. Está na mão da nossa “democracia”!…

  • Finalmente, a CORAGEM para revelar que o 25 de abril NÃO PRODUZIU NENHUMA DEMOCRACIA…produziu sim uma onda de repressão muito pior do que o regime de Salazar e em muito menos tempo…além da destruição da economia que nos anos 1960 cresceu perto de 10% ano, ou seja, seríamos uma COREIA DO SUL da europa sem o dia miserável 25 de abril