O sistémico teste do algodão da Casa Pia

Com a crónica “Lágrimas de blocodilo”, de 21-9-2021, no JN, Carlos Guimarães Pinto passou o sistémico “teste do algodão” do processo Casa Pia. Assim, ignora que o atual presidente do Parlamento só não foi acusado pelo Ministério Público (procuradores João Guerra, Paula Barata e Cristina Faleiro) no processo de abuso sexual de crianças da Casa Pia porque os crimes que lhe foram imputados por três jovens vítimas já tinham prescrito. Antes, Carlos Abreu Amorim tinha efetuado o mesmo teste com distinção e passou a escrever no JN e a ser chamado à televisão.

O mais grave não é a “canelada” ao poder judicial, nem mexer os cordéis da impunidade, mas as imputações desses três jovens (então crianças) sobre abusos sexuais, com prova testemunhal e a escuta do “alerta amarelo” por ocasião da prisão do “embaixador R.”.

Politicamente, grave, para lá dos factos e escutas denunciadoras do processo Casa Pia, não é o escrache circunstancial de Ferro Rodrigues, em 12-9-2021, coincidindo com uma manifestação contra as restrições à liberdade pela pandemia da Covid-19. Grave é Portugal ter como presidente da Assembleia da República esse indivíduo.

Prescrição salva Ferro

CM, 5-1-2004

Ferro Rodrigues, segundo a TVI, não foi acusado no âmbito do processo Casa Pia por os alegados crimes de abuso sexual terem prescrito. De acordo com a estação televisiva, no processo vêm referidas duas situações que originaram arquivamentos: falta de indícios e prescrição dos factos, tendo o líder do PS sido incluído nesta última.

Recorde-se, aliás, que o CM já tinha noticiado que Ferro constava no processo, apesar de os factos terem prescrito. Os factos relatados pelo jovem que acusa o líder do PS remontam, refere a TVI, a 1991 e 1992, tendo a testemunha na altura dez anos. No depoimento o jovem diz que foi levado por ‘Bibi’ para uma casa em Cascais onde se encontravam Ritto, Ferro e Jaime Gama e onde foi vítima de abuso sexual. Estes encontros terão ocorrido mais duas vezes, estando descrito no processo uma situação ocorrida em 1994/95, quando a testemunha tinha já 14 anos e terá sido levada por ‘Bibi’ a uma casa no Restelo conhecida como a Casa dos ‘R’. O jovem, refere a TVI, diz ali ter visto Ferro Rodrigues, Jaime Gama, Carlos Manuel, Chalana e Paulo Pedroso, acusando-os de abusos sexuais, enquanto os menores eram filmados.”

António Balbino Caldeira
Diretor

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