
Aristóteles dedica algumas páginas do livro VII de “A Política” ao sexo e ao casamento (1334b29-1336ª2).
Antes de analisarmos o pensamento do filósofo sobre o sexo e o casamento, convém ter presente o seguinte:
i) Aristóteles, ao contrário de Platão, e mais tarde, Campanella, Thomas Morus e Karl Marx, não foi um pensador utópico. Tão pouco foi um pensador ressentido ou revoltado face à sociedade do seu tempo. O estagirita considerava que os costumes e o modo de vida gregos eram os melhores do seu tempo e ajudavam a cumprir de forma excelente a finalidade culminante da vida: a eudaimonia (1).
ii) Aristóteles considerava que a Ética e a Política eram ciências práticas, ou seja, destinavam-se a propósitos de natureza prática, como por exemplo, a encontrar as melhores soluções para atingir a eudaimonia. Daí, as sugestões de carácter prático sobre o sexo e o casamento. O objectivo era:
a) dar sugestões sobre a idade ideal para os homens e as mulheres contraírem matrimónio;
b) dar conselhos sobre a melhor idade para as mulheres e os homens procriarem.
O casamento era, na Grécia do século IV a.C, um contrato que se destinava, em primeiro lugar, a assegurar a procriação e a educação dos filhos e, em segundo lugar, à transmissão das heranças. Era um negócio.
O conceito de casamento por amor ainda não tinha sido estabelecido. Esse conceito é, como sabemos, muito recente (2).
Na época em que viveu Aristóteles, era comum os homens casarem-se depois dos 30 anos de idade e as raparigas aos 18 anos de idade ou até um pouco antes. Aristóteles aconselha uma diferença de idades de 19 anos entre o homem e a mulher (3). Aristóteles justifica estas idades ideais porque os homens deixam de poder gerar filhos por volta dos 70 anos de idade e as mulheres por volta dos 50 anos de idade. Daí, a diferença de 19 anos. Aristóteles considerava que, dessa forma, haveria um maior equilíbrio no casal e, portanto, menos tensão (A Política, VII, 1335ª6).
Aristóteles dá, também, alguns conselhos sobre o tipo de vida que as mulheres devem levar durante a gravidez: caminhadas frequentes e exercício físico moderado, bem como uma alimentação cuidada (A Política, VII, 1335b12).
O filósofo dá ainda a sua opinião sobre o abandono dos recém-nascidos deficientes e sobre o aborto. Num caso e noutro, Aristóteles parece aceitar os costumes da época. Contudo, em relação ao aborto, o filósofo afirma que essa prática é errada se realizada depois de o embrião ter vida e capacidade sensitiva. Na época em que Aristóteles viveu, não se sabia que o embrião ganha capacidade sensitiva poucas semanas após a fecundação.
Notas:
1) Podemos traduzir eudaimonia por felicidade. Também a podemos definir por plenitude e vida excelente.
2) O casamento por amor é um conceito que nasce com a ascensão da burguesia e com o movimento romântico do século XVIII.
3) O homem devia casar aos 37 anos de idade e a mulher aos 18 anos de idade.
4) Às 6 semanas, o feto já mexe. Às 12 semanas, já tem alguns órgãos formados.
Ramiro Marques
* O autor escreve segundo a anterior norma ortográfica.
Carlos2 / Fevereiro 21, 2022
Jordan Peterson. “Casamento não é para ser feliz, é para dar estabilidade às crianças”
https://www.youtube.com/watch?v=6RAv2BxvbRQ
/
Carlos2 / Fevereiro 21, 2022
“…a assegurar a procriação e a educação dos filhos…”
Interessante o livro de Desmond Morris, – o macaco nu – em que ele, zoólogo, aborda também estes assuntos. Os impulsos humanos e as diferenças entre homens e mulheres, e como se complementam.
O contrato, não é mais do que por no papel, forma legal, o que a natureza nos impulsiona/condiciona
/