Ó Rosas: crimes há muitos!…

(A imagem foi editada)

A propósito das imputações de crimes de guerra do Ultramar, no teatro de operações da Guiné, ao tenente-coronel Marcelino da Mata, pelo ex-M.R.P.P. Fernando Rosas no debate com José Ribeiro e Castro, na TVI24, em 15-2-2021, respiga-se o fac-símile da notícia do “Ex-fotógrafo do Luta Popular ‘visitado’ pelo M.R.P.P.”, no Diário de Lisboa, de 20-5-1976, p. 20, escrita por Luís de Sttau-Monteiro.

«Ex-fotógrafo do “Luta Popular” “visitado” pelo M.R.P.P., Diário de Lisboa, 20-5-1976, p. 20»


O vespertino ligado ao Partido Comunista havia publicado em 28-4-1976, na primeira página, uma fotografia (ver abaixo) do “réveillon do M.R.P.P.” de 1975, onde se via o líder do Arnaldo Matos com o coronel Aventino Teixeira. Expôs, assim, a relação do movimento revolucionário com um setor do MFA (Movimento das Forças Armadas).

«O “reveillon” do M.R.P.P. em exclusivo DL», Diário de Lisboa, 28-4-1976, primeira página.

“Exclusivo mundial”, Diário de Lisboa, 28-4-1976, p. 12, com fotos da festa pequeno-burguesa de réveillon do M.R.P.P. de 31-12-1975. Além da fotografia de Arnaldo Matos e o coronel Aventino Teixeira, em evidência na terceira foto, o jornal destaca o dirigente Fernando Rosas, de bigode revolucionário e reco-reco.

Segundo conta, em 28-11-2015, no Observador, a historiadora Helena Matos, no artigo “Morte aos traidores”, referindo o Diário de Lisboa, de 19-5-1976, um grupo de cinco operacionais do M.R.P.P., sob o comando à distância do dirigente do Comité Central, Fernando Rosas, em 17-5-1976, torturou e espancou, António Ferreira de Sousa, dissidente da organização, e seu irmão, sob a ameaça de uma pistola, aterrorizando também as suas mulheres que também sequestraram. À saída, ameaçaram: “desta vez foi à porrada”; “da próxima vez será a tiro”.

Horas depois, dois desses operacionais do M.R.P.P., sob o comando do mesmo Fernando Rosas, invadiram à força e sob a ameaça de uma pistola, a casa na Amadora do fotógrafo Eduardo Miranda, outro dissidente da organização, a quem espancaram para lhe roubar o arquivo fotográfico. Como os vizinhos acudissem, os operacionais do M.R.P.P. tiveram de fugir e largaram a pistola e as munições. Estes dois sequestros, torturas e espancamentos, foram realizados não no contexto de uma guerra, mas no regime das “amplas liberdades”.

Foi o M.R.P.P., em conluio com os oficiais tenente-coronel Francisco Leal de Almeida e capitão Manuel Augusto Seixas Quinhones de Magalhães e o capitão-tenente João Eduardo da Costa Xavier, subordinados e civis, que torturaram o alferes comando Marcelino da Mata, em 1945 no RALIS, em Lisboa, em 17-4-1975 e nos dias seguintes, segundo se lê no “Relatório das sevícias apresentado pela Comissão de Averiguação de Violências sobre Presos Sujeitos às Autoridades Militares”, datado de 31-7-1976.

Os feitos de Marcelino da Mata, o militar português mais condecorado do séc. XX, pelos quais lhe foram atribuídos o colar da Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito, e cinco cruzes de guerra, foram realizados em combate, em zonas controladas pelo inimigo, por vezes em ataques a bases do inimigo PAIGC no Senegal e na Guiné Conacri, nos terrenos inóspitos da Guiné, sujeito à denúncia, à perseguição e à morte, e não na tranquilidade recuada do sofá, ao telefone, dirigindo operações essas sim realizadas à margem da lei, no fino bairro da Lapa, em Lisboa.

E foi este Fernando Rosas que chamou “criminoso de guerra” ao herói português Marcelino da Mata, no debate da TVI24, de 15-2-2021.


António Balbino Caldeira

Nota: veja-se também o artigo “Arguido por delito de… informação: queixa de Fernando Rosas“, no Inconveniente, de 7-1-2022.

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Latest comments

  • O F Rosas tem direito à sua opinião. O trágico é termos de levar com ele nas TV,s a debitar os seus pontua de vista, como se fosse o dono da História de Portugal e cronista-mor do Reino. Já estórias sabe muitas e sabe-as contar.

  • Esse espécie de ‘gente’ , Fernando rosas , nunca me enganou…

  • Um blog interessante que tenciono seguir.
    Aquele N invertido é me deixa um pouco de pé atrás… Faz lembrar os enes dos No Name Boys e com isso, a imagética do nazismo. É intencional ou não tinham sequer reparado?

  • No Cirílico corresponde ao nosso “i”. Apesar disso acho bem vista a sua utilização neste caso.

  • Bom trabalho.