O papel das eólicas no preço da energia

Antes de 1973 o petróleo era tão barato que inviabilizava a produção de energia elétrica pelo vento, fazendo com que todos os estudos de viabilidade concluíssem a favor dos combustíveis fósseis – carvão, nafta, gasóleo, gás. A tecnologia eólica era ainda incipiente, com potências unitárias da ordem dos kW, os painéis fotovoltaicos eram demasiado caros, a aplicação prática destas tecnologias só fazia sentido em zonas remotas como ilhas pequenas ou zonas muito afastadas da rede de distribuição elétrica. Aos custos dos equipamentos de produção em zonas isoladas deveria ainda somar-se o custo das baterias ou sistema de armazenamento por bombagem que permitisse um funcionamento que ajustasse a flutuação do consumo à da produção dependente do vento ou do sol.

O choque petrolífero de 1973 deu um enorme impulso à tecnologia eólica, onde havia ainda diversas questões a resolver, que iam do número e espécie de pás ao tipo de gerador a usar. Foram necessários diversos projetos piloto patrocinados para estabelecer essa tecnologia. Com apoio dos respetivos governos, os países nórdicos (principalmente a Alemanha e a Dinamarca) criaram diversas pequenas empresas que foram lentamente construindo máquinas eólicas cada vez maiores, passando dos poucos kW de potência unitária para alguns MW em cerca de 30 anos de ensaios e erros. Foram resolvidas várias outras questões técnicas e a tecnologia atual permite uma vida útil de pelo menos 20 anos por máquina, mas não muito mais devido à fadiga dos materiais. Durante estes 20 anos a máquina produzirá X MWh com uma manutenção que custa Y e com pagamento de aluguer do terreno ocupado de W. A somar a estes custos temos o investimento, os interesses de capital, os seguros e o lucro esperado pelo investidor. Dividindo todos os custos dos 20 anos de vida média pela produção esperada, ficamos a saber por quanto pode ser vendido cada MWh eólico.

Assim, o preço do MWh de energia eólica vai depender muito mais dos custos do que da produção, porque a produção de um aerogerador é bastante previsível ao longo dos anos de vida útil e dos dados de vento do local da instalação. Estando a tecnologia agora praticamente assente, e dada a crescente procura de energia eólica por causa da questão do aquecimento global, não é de prever que os custos baixem. O investimento é atualmente de cerca de 1 milhão de euros por MW instalado. Cada MW vai produzir cerca de 2 GWh de energia por ano, ou seja, em 20 anos 40 GWh. Tendo em conta apenas o custo do MW de potência, a energia resultaria a 25 euros por MWh. Mas a este valor há que somar as despesas de manutenção, rendas, custos de capital, seguros, lucro e pode facilmente triplicar ou quadruplicar.

Podemos, pois, estabelecer 100 €/MWh como aceitável para a energia eólica. E este valor é independente do custo do combustível, que é gratuito – o vento –, sendo este seria o valor mínimo a praticar pelos produtores de energia eólica. Mas o preço político garantido nos contratos é muito superior, e com garantia de que toda a produção é comprada (tarifas feed-in). As horas de utilização anual são fixadas pela disponibilidade técnica das máquinas e pelo vento, sendo, em média, iguais de ano para ano.

Os governos acreditavam, ao apoiar a eólica (e outras alternativas), que iriam pressionar os produtores de petróleo e de gás natural a baixar os preços, porque iriam vender menos. Mas não é o que está a acontecer e vejamos porquê:

Consideremos o caso de uma central térmica a gás ligada a uma rede onde existem eólicas a concorrer com elas. Como a produção eólica tem prioridade de entrada na rede, vai obrigar a térmica a trabalhar menos. O investimento numa térmica a gás é da mesma ordem de grandeza que nas eólicas – 1 milhão de euros por MW, todavia com uma vida útil de pelo menos 30 anos e o preço da eletricidade dependendo muito do preço do combustível e do tempo que funcionam, isto é, da sua utilização anual medida em horas de funcionamento. Quanto mais horas trabalharem, mais barata será a eletricidade produzida, resultante da divisão de custos pela quantidade de energia produzida. Se uma central a gás funcionava 6000 horas por ano e passa a só poder funcionar 2000 horas por ano, vai produzir 3 vezes menos energia a um preço que não triplica, pois irá consumir menos gás (no entanto, pode facilmente duplicar).

O fornecedor de gás da central, sabendo que a energia eólica é paga, por hipótese, a 150 €/MWh, faz cálculos sobre o valor a que pode vender o gás de modo a que o preço da eletricidade produzida se aproxime do da eólica; ou mesmo superior, dado que ela é indispensável para colmatar a intermitência do vento e satisfazer a procura.

O resultado final é que a eólica, por fazer baixar a utilização das térmicas e por ter um preço garantido alto, arrasta o aumento do preço dos combustíveis a valores muito acima do razoável. E – outro erro de cálculo político dos papas do aquecimento global – a quantidade de combustível que se compra não tem relação com a fatura dos combustíveis fósseis, porque os produtores adaptam a produção à procura e ajustam o preço de forma a maximizar o seu lucro.

Com o preço do gás a rondar os 100 €/MWh, o preço da eletricidade produzida a partir dele irá para valores superiores a 250 €/MWh, sem contar com a componente dos custos fixos da potência instalada. Mas esta é a tendência do preço da eletricidade no mercado grossista a curto prazo. E pode subir mais porque a alternativa eólica (ou solar) não consegue substituir outras fontes de energia devido à sua intermitência, ao preço a que é comprada pela rede e à inexistência de formas de armazenamento que não a encareçam ainda mais.

Em suma, o preço da energia, principalmente da elétrica, vai subir inexoravelmente, e esta subida vai fazer subir os preços de todos os produtos. Caminhamos para uma crise energética e económica sem precedentes, causada pela ilusão de que se poderia combater a subida de preço dos combustíveis fósseis com alternativas que acabam por ser, ironicamente, as responsáveis pela crise. Esse objetivo só seria realizável com energias que possam efetivamente competir em termos de disponibilidade e preço mas, sobretudo, que dispensem por completo a dependência dos combustíveis fósseis, situação que é uma miragem.

Mas esta situação não é só a nossa, todo o Ocidente está a ser manipulado pela mesma ideia fixa de que as eólicas e solares é que vão salvar o planeta do aquecimento global. Este tema consegue o apoio ingénuo das camadas jovens, mas os efeitos na economia real são catastróficos: o preço da energia é sempre determinante na competitividade.


Henrique Sousa
Editor de Energia e Ambiente do Inconveniente

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Sub-diretor do Inconveniente

Latest comments

  • “Este tema consegue o apoio ingénuo das camadas jovens,…”
    Sim é verdade, porque nas escolas são ensinados dessa forma, e os pais não sabem corrigir, porque a maior parte sofreu o mesmo que os filhos.
    Como são jovens não têm conhecimentos ou experiência suficiente para questionar essa “verdades”, (pais têm o mesmo problema) nem são ensinados a questionar, antes pelo contrario.
    Temos depois os meios de comunicação social a continuar com o mesmo processo até à náusea.
    Já o hitler dizia que uma mentira repetida vezes sem conta torna-se verdade. lol
    .
    Uma experiência interessante que do meu ponto de vista desmistifica um pouco toda esta mentira, é podermos criar uma nuvem dentro duma garrafa. O interessante é que se não poluirmos o ar dentro da garrafa não podemos criar uma nuvem. E, sem nuvens, adeus rios, lençóis freáticos, água doce, etc, etc…
    Making a Cloud in a Bottle
    https://www.youtube.com/watch?v=MBh6TPYH3XU
    .
    Não tem nada a ver com o tópico mas penso que todos devemos ver. Problema não é só norueguês.
    Farmed Norwegian Salmon World’s Most Toxic Food
    https://www.youtube.com/watch?v=RYYf8cLUV5E
    .
    “A Europa está a ser governada por alienados”
    Discordo. Os governantes até podem ser… considerados idiotas úteis, mas quem está a governar tem objectivo(s). Não se gastam biliões sem objectivo(s).
    O barco pode parecer que anda à deriva, mas só acontece porque sabemos muito pouco.

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