
Milagre do Sol foi um acontecimento que ocorreu no dia 13 de outubro de 1917 no terreno da Cova da Iria, perto de Fátima, em Portugal. Entre 30 e 100 mil pessoas assistiram ao acontecimento, segundo estimativa de José de Almeida Garrett, professor de ciências naturais na Universidade de Coimbra e relato de Avelino de Almeida no jornal O Século.
Mas não é desse milagre que aqui vamos falar. É do milagre que está a acontecer com as centrais solares fotovoltaicas industriais que estão a vender energia elétrica à rede a menos de 30 €/MWh. Há mesmo notícia de leilões onde se atingiu o valor mais baixo a nível mundial para o MWh solar – 11,14 €/MWh, equivalente a 1,114 cêntimos por kWh, quase 20 vezes menos do que o consumidor paga na sua fatura de eletricidade.
Ora, se o custo de instalação de 1 MW de potência solar for, segundo indicam as pesquisas, de 1 milhão de euros e, fazendo alguns cálculos simples, chegamos à conclusão que, a uma taxa de juro de 7%, o investimento total seria de perto de 2 milhões de euros o que, sem lucro e sem despesas, nos conduz a um preço muito superior ao valor de 11,14 €/kWh correspondente ao leilão.
Com efeito, as centrais fotovoltaicas de painéis fixos têm uma produção equivalente a 1500 horas/ano à potência máxima, o que faz 1500 MWh/ano. Em 20 anos, 1 MW irá produzir 30.000 MWh. Sem considerar outros custos, dividindo 2 milhões de euros por 30.000 MWh, obtém-se o valor de 66,7 €/MWh – apenas no que respeita a despesas de capital, sem lucros, sem manutenção, sem qualquer renda por terrenos ocupados, etc..
Mas vamos supor que o juro era zero, então o preço mínimo do MWh baixa para metade ou seja 33,35 €/MWh, ainda muito superior aos 11,14 €/MWh. Vamos supor ainda que, numa compra em grande escala de painéis, se conseguia baixar o investimento para 500 mil euros, a juro de 0%. Então o MWh baixava ainda mais para 16,675 €/MWh, mas ainda superior ao valor do leilão. E isto sem lucros, sem despesas, sem rendas e com juro de 0%.
Quem, no seu juízo perfeito, embarcaria num negócio destes? Responda quem souber, mas podemos estar perante um novo milagre do sol ou esquemas obscuros, especulação, etc. e compete às autoridades económicas e/ou judiciais investigar.
Henrique Sousa
Editor para Energia e Ambiente do Inconveniente