Marcelo: uma nos cravos e outra na ditadura

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Marcelo Rebelo de Sousa condecorou 27 militares que participaram na revolução do 25 de Abril com a Ordem da Liberdade, no dia 26-2-2021. E, segundo o Público, de hoje, 4-3-2021, em notícia referida pelo Expresso, “decidiu que vai condecorar todos os militares que estiveram envolvidos” (no golpe militar) “e contribuíram para a queda da ditadura”.

A lista dos militares a condecorar está a ser elaborada pelo Conselho das Ordens Nacionais coronel Vasco Lourenço.

Marcelo evita o embaraço de ter de agraciar Otelo com a Ordem da Liberdade – a qual “destina-se a distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da Civilização, em prol da dignificação da Pessoa Humana e à causa da Liberdade”. É que Otelo Saraiva de Carvalho, já foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, ironicamente no 25 de novembro de 1983, ele que liderou esse golpe militar de 1975, em aliança com a extrema-esquerda, o Partido Comunista e o MES (no qual militava Eduardo Ferro Rodrigues).

A condecoração foi atribuída pelo Presidente da República Ramalho Eanes antes de Otelo ser detido, em 20-6-1984, e mais tarde condenado a 18 anos de prisão, por liderar a organização terrorista de extrema-esquerda FP-25, responsável por 17 mortos, além dos feridos, assaltos a bancos e outros crimes – cf. “À lei da bala – Os 25 anos sobre a amnistia às Forças Populares 25 de Abril”, por Manuel Castelo-Branco, Observador, 28-2-2021.

Estas 27 condecorações a militares da revolução de Abril, atribuídas em 26-2-2021, compensam a ida de Marcelo ao funeral de Marcelino da Mata, dez dias antes, que a esquerda contestou.

Recorde-se que o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, divulgou – tarde – uma nota de pesar, breve e lacónica, pelo falecimento do tenente-coronel comando Marcelino da Mata. Essa nota de pesar, que abaixo o Inconveniente publica, do Chefe de Estado, que é também Comandante Supremo das Forças Armadas, contrasta com o texto do voto de pesar pela morte deste herói português aprovado no Parlamento, sob proposta do CDS e que grande parte do PS também votou a favor, pode ser comparada com as cerca de 430 notas de condolências na página oficial da Presidência da República, emitidas no primeiro mandato de Marcelo.

Marcelino da Mata, português nascido na Guiné, o militar mais condecorado das Forças Armadas portuguesas, possuía a Torre e Espada e cinco cruzes de guerra, e tinha uma folha de serviços limpa. Além disso, foi torturado barbaramente, em 17-5-1975 e nos dias seguintes, no Ralis, por militares do quartel e civis do MRPP, partido em cuja direção pontificava Fernando Rosas.

Marcelo compareceu ao funeral, no dia 16-2-2021, que decorreu sem honras militares com a justificação dos cuidados face à Covid-19, e onde não esteve nenhum dirigente do Ministério da Defesa de João Gomes Cravinho. As cadeias de televisão nacionais surgiram só no final da cerimónia, após emissão em direto pelo jornal Notícias Viriato. Não é conhecido se, ao contrário do que é habitual, a Presidência da República omitiu aos média que Marcelo iria ao funeral e se este não queria aparecer nos telejornais naquela cerimónia.


António Balbino Caldeira

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