Marcelo Jânio Quadros de Sousa

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“Nos primeiros dias de Novembro de 1960, Jânio Quadros, que agora é já presidente eleito do Brasil mas ainda não tomou posse, aparece a deambular pela baixa lisboeta, errático e misterioso. Senta-se isolado num banco da Avenida da Liberdade, como embrenhado em meditação insondável, ou a observar os que passam. Aceita no seu hotel os cumprimentos de Negrão de Lima; mas repele o menor contacto com o governo português, ainda que um simples acto de cortesia devido ao futuro chefe do Estado brasileiro. Acercam-se de Quadros alguns jornalistas portugueses e estrangeiros. Diz-lhes o político brasileiro rudemente: “quero que não me sigam mais”. Pela sua atitude, Quadros pretende significar que, se é amigo do povo português, reprova a política do seu governo, e não quer com este a sombra de uma ligação. Deste modo, o antigo governador de S. Paulo quer mostrar-se coerente com a demagogia com que conduziu no Brasil a sua campanha, com o seu arreigado esquerdismo, com o seu apregoado anti-colonialismo, o seu anti-imperalismo, o seu pacifismo.”

Franco Nogueira, Alberto (1984). Salazar – Vol. V – A resistência (1958-1964). Livraria Civilização Editora. pp. 174-175.

Tal como Jânio Quadros em novembro de 1960 na capital portuguesa, Marcelo foi para o Brasil no final de julho de 2021, em atitude de desafio ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro. O presidente português pretende reprovar o presidente brasileiro e interferir na corrida presidencial no país irmão que decorrerá em 2-10-2022, mas cuja campanha já começou.

O presidente Bolsonaro ganhou as eleições contra a esquerda marxista de Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), que substituíu o ex-presidente Lula condenado por corrupção. A aliança entre os juízes do Supremo Tribunal Federal, alguns deles também referidos na Operação Lava-Jato, a imprensa ligada ao poder (Globo, Folha, Estadão, etc.) e, mais tarde, o centrão corrupto encostado ao PT e alguns governadores eleitos com o apoio de Bolsonaro que se passaram para a oposição, virou a ordem democrática.

Lula foi solto pelo Supremo, apesar da lei penal brasileira, os juízes da suprema corte intrometem-se constantemente na ação governativa, impedindo o presidente de governar, e a pandemia foi explorada pela imprensa contra o governo e pelos governadores envolvidos em negócios de corrupção contra o Estado.

O presidente foi enfraquecido pela acusação de corrupção ao seu filho Fábio e decidiu um compromisso com o centrão político, que não parou os ataques e só o enfraqueceu. Mas a política de recuperação do Brasil do marxismo relativista, da corrupção endémica, da criminalidade ubíqua, do desequilíbrio financeiro, do atraso económico, da educação regredida pelo esquerdismo construtivista, da saúde desigual, das infraestruturas paradas, que era – e é! -, o programa de Bolsonaro continua a fazer sentido.

Mais ainda, a conflitualidade política poderá levar ao pronunciamento das suas forças armadas, descontentes com a perversão da ordem democrática e a despudorada usurpação de funções executivas pelo Supremo Tribunal, que manda prender deputados e processa políticos opositores.

É neste clima político escaldante (veja-se a live do Presidente Bolsonaro, de 29-7-2021) que o populista Marcelo copia agora no Brasil a paródia em Lisboa, seis décadas atrás, de Jânio Quadros, talvez o primeiro populista. O Presidente português recebeu o condenado Lula e arranjou modo de se encontrar com Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer (outro sancionado por corrupção) e José Sarney, antes de ser recebido pelo presidente legítimo Jair Messias Bolsonaro.

Porque se comporta o presidente português desta maneira patética, que envergonha os portugueses e prejudica os cidadãos nacionais (e descendentes) e suas empresas no Brasil, tomando partido numa contenda com a qual nada tem a ver e para a qual ninguém o chamou?… Por cálculo político, mais do que pelo seu estilo histriónico. Há cinco anos, Marcelo foi eleito pela direita contra a esquerda e logo se aliou aos socialistas. Colou-se ao frentismo de esquerda (PS, PC e Bloco de Esquerda) para ganhar popularidade.

Assim, precisa de mostrar simpatia com a esquerda marxista, seja visitando o genocida Fidel Castro ou encontrando-se com o corrupto Lula, para arrecadar o apoio interno dessa frente. Na verdade, o presidente Marcelo subordina-se ao primeiro-ministro Costa, invertendo a ordem constitucional, mas contente com o aplauso dos socialistas e comunistas. Frio, apesar do estilo cómico, sacrifica as relações bilaterais com o Brasil e ofende os brasileiros, para obter benefício político pessoal, do mesmo modo como tinha adiado até poder a quarentena na fase aflitiva da Covid, em janeiro de 2021 para não baixar a sua votação.

O problema de Marcelo não é o botequim, nem a loucura, de Jânio: mas o populismo que despreza o povo que deveria servir por causa da fama que o sidera.


António Balbino Caldeira
Diretor

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