Ivermectina: a “resposta final”

Em notícia de 23-6-2021, a BBC informa que cientistas da Universidade de Oxford vão finalmente usar a ivermectina num estudo que se propõe comparar a evolução da doença Covid-19 em pacientes que receberam o medicamento com aqueles que não receberam e estão a ser tratados com os cuidados normais do serviço nacional de saúde. A iniciativa conta já com mais de 5 mil voluntários.

A este estudo foi dado o nome de Principle e destina-se a pessoas entre os 18 e os 64 anos com comorbilidades ou maiores de 65 anos que podem inscrever-se depois de apresentarem sintomas ou receberem um teste positivo ao SARS-CoV-2.

Recorde-se que o antiviral tem sido desaconselhado pela OMS e por muitas entidades reguladoras dos medicamentos no mundo, incluindo a americana (FDA) e europeia (EMA), por não existirem estudos que comprovem com elevado grau de certeza a eficácia no combate à Covid-19. A segurança, essa é comprovada pelo seu uso massivo nalguns países para combate de doenças provocadas por parasitas.

Os indícios sobre a potencial ação anti-viral do medicamento passam por um ensaio in vitro feito em abril de 2020 na Austrália, pela fraca incidência da doença em países africanos onde existem programas de combate da oncocercose com ivermectina, por relatos de médicos que a usaram off-label no tratamento de doentes Covid e numerosos estudos que envolveram pequenos grupos de pacientes realizados em hospitais de alguns países.

A propósito deste estudo da Oxford (Principle), o Dr. Stephen Griffin, da Universidade de Leeds, afirma que “muito parecido com o que aconteceu antes com a hidroxicloroquina, tem havido uma quantidade considerável de uso off-label deste medicamento”. Acrescenta que “o perigo com esse uso off-label é que… o uso do medicamento passa a ser impulsionado por grupos de interesse específicos ou proponentes de tratamentos não convencionais e torna-se politizado“, rematando que este ensaio deve fornecer uma “resposta final” se a ivermectina deve ou não ser usada para tratar a doença provocada pelo novo coronavírus.

Não se entende a alusão a grupos de interesses específicos (lóbis) já que a patente do medicamento está caducada e o medicamento tem uso massivo em animais e humanos. A alusão a proponentes de tratamentos não convencionais e à politização poderá ter a ver com a posição assumida por políticos que sugeriram o uso de medicamentos para controlo da pandemia, em alternativa às novas vacinas.

É de estranhar que, mais de um ano depois de se ter constatado a potencial ação antiviral da ivermectina, só agora se dê início a um ensaio alargado que visa dar a “resposta final” sobre a sua eficácia.

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Sub-diretor do Inconveniente

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