
O Frente Amplio (Frente Ampla), grupo de partidos de esquerda marxista do novo presidente chileno, Gabriel Boric, pretende seguir o modelo da geringonça portuguesa, relata o jornal La Tercera, de 2-1-2022.
O jornal cita vários dirigentes interessados em repetir no Chile o modelo de acordos parlamentares entre o PS com o Bloco de Esquerda e com o PC, criado por António Costa, em 2015.
Porém, as situações são diferentes.
Em primeiro lugar, Boric é um marxista revolucionário, herdeiro ideológico das correntes de guerrilha urbana, como o MIR (tal como a FPMR), que realizavam atentados antes da presidência de Salvador Allende, que foram por este amnistiados mas continuaram a perpetrar ações de terror contra os adversários, durante este governo do chamado “socialismo real” e depois, mesmo quando Pinochet foi afastado do poder e eleito Patrício Alwyn.
O agnóstico Boric liderou a revolta estudantil comunista e radical de 2011 e ganhou tração com o “estallido social” anarquista de 2009-2010. Aproveitou ainda a mudança de perspetiva dos média chilenos para a esquerda. Boric venceu a campanha presidencial com uma imagem de modos suaves e trato cordial — embora já lhe tenha sido imputado assédio sexual sobre uma colaboradora, em 2012.
Em segundo lugar, a coligação Apruebo Dignidad de partidos que apoiaram a eleição do novo presidente, em 19-12-2021, incluiu o Partido Comunista do Chile. Ou seja, foi uma coligação pré-eleitoral. Portanto, a dependência do PC é maior.
Em terceiro lugar, o número de deputados e senadores desta coligação é bastante menor e serão precisos acordos com o Partido Socialista e até a direita moderada chilena, como a Democracia Cristã.
Em quarto lugar, o Chile não tem a direção supranacional da política financeira e económica da União Europeia, que limitou as pretensões do PC e do Bloco, cujo principal ganho foi a concessão subreptícia de lugares no aparelho de Estado e a imposição do marxismo cultural na educação e nos média.
O principal facto a extrair da eleição de Boric é o retorno ao poder do Partido Comunista, numa coligação marxista de matriz ideológica revolucionária, 49 anos depois do golpe militar. Esta guinada para a esquerda marxista, com o sacrifício do povo em proveito da ideologia, também ocorreu no Perú, consolidou-se na Argentina, reforçou-se na Venezuela, Cuba e Nicarágua, será retomada no Brasil com o regresso à presidência do abençoado Lula, após a remoção do fustigado Bolsonaro. Uma mudança na política para a esquerda marxista na América do Sul, Central e México (e em estado larvar nos EUA e Canadá) que foi influenciada pelo Papa Francisco.
António Balbino Caldeira