
De junho de 1948 a maio de 1949, a cidade de Berlim Ocidental foi sujeita a um bloqueio da União Soviética que interrompeu todos os seus acessos: rodoviários, ferroviários e aéreos. O objetivo era forçar as potências ocidentais a sair para que os soviéticos assumissem o controlo de toda a antiga capital, situada na zona sob o seu domínio.
Em resposta, os aliados organizaram uma ponte aérea para Berlim, transportando o que fosse possível para que os berlinenses ocidentais pudessem resistir à fome e ao frio. A Força Aérea dos Estados Unidos e britânicas da Royal Air Force fizeram mais de 200 mil voos no período em que durou o bloqueio, transportando 4.700 toneladas diárias de alimentos, combustível e bens de primeira necessidade para os sitiados.
Conta-se que Berlim Ocidental ficou sem uma única árvore no inverno de 1948-1949. Foram cortadas para aquecer as casas porque o carvão, que vinha de avião, era pouco para todos.
A Ucrânia já está a sofrer um bloqueio semelhante ao de Berlim Ocidental por parte dos russos que irão impedir a chegada de bens essenciais, entre eles a energia. De certo privarão os ucranianos de gás, carvão, combustíveis refinados e mesmo da eletricidade, apoderando-se das centrais e cortando as linhas que abastecem os centros urbanos. Só após a conquista da Ucrânia é que ela poderá voltar a ter energia e restantes bens – vindos naturalmente da Rússia ou controlados por ela.
O mundo ocidental, EUA e Europa Ocidental, impuseram sanções económicas à Rússia e esta virou-se para o mercado oriental, principalmente a China. Os EUA podem passar bem sem o petróleo e o gás russos mas a Europa Ocidental, com a UE incluída, vai continuar a receber petróleo, gás e carvão da Rússia por ser a alternativa mais barata.
Porém, é mais provável que seja a própria Rússia a cortar de forma abrupta esses fornecimentos, em retaliação às sanções do Ocidente, entre elas a redução da energia importada da Rússia, a ser substituída pela de outros fornecedores, entre eles também os próprios EUA. E estes já começaram por seu lado a negociar pragmaticamente com países como a Venezuela ou a Arábia Saudita no sentido de substituir o petróleo russo e satisfazer a procura interna e externa.
Se a guerra na Ucrânia se prolongar e as sanções à Rússia se mantiverem, a Europa Ocidental vai ficar, de certo modo, num bloqueio semelhante ao de Berlim Ocidental em 1948-1949, tendo que importar energia, principalmente o gás e o petróleo, de outras regiões a preços mais altos dada a reestruturação do mercado e mudanças na tecnologia de transporte, como é o caso do gás que vem de barco na forma líquida (GNL).
Abro aqui um parêntesis para me referir a Portugal:
Portugal não depende muito da energia vinda da Rússia. O que não significa que esteja imune à escalada de preços geral que a escassez na Europa provoca. A subida de preços é galopante e transversal a todos os combustíveis: gás natural, GPL e derivados de petróleo. Portugal já não depende do carvão desde que fechou as duas últimas centrais a carvão. E nenhum dos combustíveis consumidos em Portugal vinha da Rússia, senão esporadicamente. As centrais de Sines e do Pego foram escorraçadas pelas centrais de entrada prioritária na rede (solares, eólicas e biomassa), mas serviu para efeitos de propaganda climática do governo, já que em geral as centrais a carvão produzem mais CO2 que as de gás. Foi um erro estratégico, tanto mais que os maiores utilizadores de carvão como China, Japão, EUA, etc. continuam a usá-lo por ser mais barato! E, ao contrário do que diz o governo, o carvão que era usado nas nossas centrais não vinha da Rússia, vinha maioritariamente da Colômbia (90%).
Como irá a Europa satisfazer o seu consumo de energia se a Rússia fechar as torneiras? No imediato, terá que encontrar outros fornecedores e aguentar a escalada de preços e as consequências económicas e sociais. Depois terá de retomar a exploração de carvão, construir mais centrais a carvão e nucleares e reduzir a dependência dos combustíveis importados (principalmente gás e petróleo) com a adoção de tecnologias que possam usar a eletricidade, como por exemplo as bombas de calor, transportes elétricos, fornos elétricos, etc. Reduzir não significa anular porque a existência de alternativas é sempre uma vantagem – é como ter um carro que funciona com qualquer combustível, seja gás, gasóleo, gasolina, álcool, biodiesel, carvão ou eletricidade.
Pode ser que se estabeleça um novo mercado de abastecimento que permita dispensar a energia russa. Mas até lá, a Europa pode ter de passar pelo racionamento, seja por imposição de limites de consumo ou por imposição de preços altos que levem à redução do consumo e promovam novas formas de estar perante esse bem precioso que é a energia, quiçá o retorno ao fogão a lenha e o transporte velocípede que era tão popular na China pré-industrial…!
Por último, resta ainda a possibilidade de cortar as árvores todas da Europa como os berlinenses ocidentais fizeram para não morrerem de frio durante o bloqueio soviético! O bloqueio seria finalmente levantado em maio de 1949, com a criação de dois Estados alemães separados, a República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental) e a República Democrática Alemã (Alemanha Oriental), ficando a cidade de Berlim dividida em dois setores – Berlim Ocidental e Berlim Oriental.
Henrique Sousa
Josephvss / Março 17, 2022
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Aqui tambem :
https://www.geoexpro.com/articles/2019/07/exhumed-portuguese-oil-field-suggests-hydrocarbon-potential-in-conjugate-newfoundland-basin
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Henrique Sousa (Autor) / Março 19, 2022
https://www.tsf.pt/mundo/governo-alemao-preocupado-com-fornecimento-de-energia-no-proximo-inverno-14695790.html?fbclid=IwAR3P0bDHrFgt949zpaK4eNhZbAGzpX93BVEf7ilpy-xNrkYl7Y_a9cATZOg
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