
Até hoje, mais de 50 milhões de cidadãos no mundo terão recebido alguma das vacinas contra a Covid-19 (ver evolução na Github).
Aguardam-se, entretanto, os primeiros estudos sobre qualquer das vacinas já aprovadas, que tenham sido devidamente publicados em revistas cientificas independentes e validados com revisão de pares (peer review) de cientistas especialistas e independentes, como é regra fundamental na publicação científica.
Praticamente todos os estudos divulgados desde agosto de 2020 são produzidos pelos próprios laboratórios que produzem as vacinas. No entanto, todos estes estudos não legitimados têm alimentado os espaços noticiosos com alegações sobre a efetividade das vacinas.
Registe-se aqui, no Inconveniente, para futuras consultas, o historial desse processo.
Em 9-11-2020, a parceria empresarial BioNTech-Pfizer anuncia o seu produto candidato a vacina Covid-19 e alega uma efetividade de 90%. Apenas dois dias depois, a Comissão Europeia (CE) assinou o primeiro contrato de compra de vacinas Covid-19, em 11-11-2020, com a BioNTech-Pfizer.
Seis dias depois, em 25-11-2020, a mesma CE anuncia o acordo de compra de vacina com a Moderna. Nesta altura, não havia qualquer evidência publicada em fontes legitimadas cientificamente sobre qualquer destas vacinas (analise-se o historial dos contratos aqui: https://ec.europa.eu/info/live-work-travel-eu/coronavirus-response/public-health/coronavirus-vaccines-strategy_en).
A China anunciou a sua primeira vacina Covid-19 em 17-8-2020. A Rússia anunciara a sua vacina seis dias antes, em 11-8-2020.
Entretanto, o mais recente estudo publicado com dados da população britânica vacinada, desenvolvido por uma agência de base governamental (a Public Health England), foi divulgado a 1-3-2021. Este estudo também é divulgado numa versão ainda não legitimada pelo crivo da publicação cientifica independente e respetivas regras de avaliação por especialistas independentes, obrigatória nas revistas cientificas indexadas através dos mais exigentes processos internacionais de legitimidade científica.
Entre as várias ideias propostas por este estudo, destaca-se, na sua página 10, a indicação de que afinal a vacina da BionTech-Pfizer (ou BNT162b2), tem uma efetividade em comparação com a população não vacinada de 59% (“Compared to an unvaccinated baseline, this is equivalent to a vaccine effectiveness of 59%“). No entanto, para o grupo acima dos 80 anos, o estudo aponta uma efetividade de 89%.
Na metodologia aplicada, os autores do estudo admitem, porém, ter tido dificuldade em evitar o viés nos resultados pela possível imunização por infeção anterior a 8-12-2020. Ou seja, algumas das pessoas que tomaram a vacina e não demonstraram re-infeção após 35 dias poderiam já estar imunizadas naturalmente e não por efeito da vacina. Ficando essa questão para clarificar em estudos futuros.
Outra ideia fundamental promovida por este estudo britânico é o argumento de que a vacina também britânica (notem que a AstraZeneca tem a sua sede registada em Cambridge, no Reino Unido) da Oxford/AstraZeneca (ou a ChAdOx1), é a de que esta tem efetividade similar à sua concorrente da BionTech-Pfizer no grupo etário acima dos 65 anos.
Este é na verdade um dos desafios comerciais que a empresa enfrenta numa altura em que se divulgou na comunicação social generalista que esta vacina tinha uma efetividade entre os cidadãos acima dos 65 anos muito abaixo da sua concorrente.
Este curto historial indicia uma guerra comercial para o maior negócio de saúde neste século, que é a vacina Covid-19. Um relatório do Business Insider de 7-1-2021 estimava em 40 mil milhões de dólares o valor em vendas de vacinas contra a Covid-19 durante o ano de 2021. E 28 mil milhões de dólares são as vendas estimadas de vacinas da Covid-19 para as empresas BioNTec-Pfizer e Moderna.
Os analistas antecipam também uma continua venda anual da vacinas Covid-19 acima dos 10 mil milhões de dólares durante os próximos cinco anos.
Adicionalmente, podemos constatar a grande confiança que a Comissão Europeia teve desde sempre nestas duas empresas, que anunciaram, elas próprias, a oferta de vacinas com efetividade a níveis raramente vistos em outras vacinas produzidas nos últimos 100 anos.
O artigo científico britânico pode ser acedido aqui.
Paulo K. Moreira
Editor de Saúde do Inconveniente