Energia eólica deve valer menos

Em artigo publicado em outubro de 2021, defendi que a introdução das “eólicas” no sistema produtor encarece a energia elétrica das centrais térmicas, escorraçando-as mesmo, como foi o caso do carvão em Portugal.

No presente artigo, decidi provar, com números e cálculos, o efeito da introdução da energia eólica numa rede simplificada.

Comecemos por considerar a situação anterior à introdução da energia eólica, em que uma central térmica abastece os consumidores com uma utilização de 60 % (determinada pelo consumo), com um custo de produção (C) de 0,153 €/kWh.

Este é um valor assumido com 0,050 €/kWh referente ao custo do combustível e lubrificantes (C1) somado a 0,103 €/kWh dos custos fixos (C2): amortização, manutenção, salários, etc.

Este último custo depende das horas de funcionamento da central. É o custo fixo por ano da potência unitária instalada (avaliado em 540 €/kW/ano) a dividir pela utilização em horas anuais de funcionamento, neste caso 5256 horas (60 % de 8760 horas) à potência nominal. O custo total C é a soma de C1 com C2.

A dada altura, constata-se que o custo da energia eólica pode competir com o custo da central térmica porque é da mesma ordem de grandeza, por exemplo 0,154 €/kWh, que resulta apenas dos encargos de potência avaliados em 270 €/kW/ano com uma utilização de 20 % determinada pela disponibilidade do vento (equivalente a 1752 horas/ano à potência nominal).

Mas ao introduzir a produção eólica na rede, a utilização da térmica vai, necessariamente, ser menor, passando a funcionar menos horas por ano e fazendo aumentar fator de custo C2 (encargo de potência) da central térmica.

Supondo que a utilização da térmica diminui para 40 %, isto é, 3504 horas/ano, C2 passa a ser 0,154 €/kWh e o custo total da térmica será de 0,204 €/kWh, a soma de C2 com C1 (que permanece constante).

Se a produção eólica for 50% do total, o custo do sistema misto (térmica mais eólica) passa de 0,153 €/kWh (valor antes da instalação da eólica) para 0,179 €/kWh, isto é, mais 17,3%.

O quadro seguinte resume a comparação efetuada:


Custo do kWh em €
Térmica a 60 % (só)0,153
Térmica a 40 % (c/ eólica)0,204
Mix 50 %eólico+50 %térmico0,179 (+17,3 %)

Conclusão

A introdução da energia eólica numa rede só faz sentido em duas situações:

1. A potência eólica instalada ser muito pequena para não afetar significativamente a utilização da térmica na hipótese de custos semelhantes de produção;

2. Se a potência eólica provocar redução significativa da utilização da térmica, o custo da produção eólica deve ser de tal forma baixo que o custo do sistema misto não sofra alteração, apesar do aumento de custo da térmica.

O ponto 2 põe a nu a menor qualidade das energias intermitentes no que respeita à satisfação dos consumos, devendo por isso custar menos, sobretudo quando a potência instalada é exagerada, que é a situação atual em Portugal.


Henrique Sousa

Editor para Energia e Ambiente do Inconveniente

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Sub-diretor do Inconveniente

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  • Inconveniente é a falta de visão. Precisamos de nos libertar de utilização de energias de origem fósseis que para além de contribuirem para o aquecimento global dependem da importação e como tal saida de divisas. As energias renováveis empregam quadros locais e não contribuiem para o financiamento de governos autocráticos. Este artigo baseia-se num discurso de coitadinho de que as térmicas não funcionam devido às renováveis. Isto porque o argumento antigo de que as renováveis não eram competitivas já não pega. As centrais termicas já são estória. Agora é criar mecanismos de normalização da carga (e.g alto Rabagão) e transitar para renováveis a 100%.

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