Em memória do Professor Ramiro Marques

Faleceu o Prof. Doutor Ramiro Marques.

Ramiro Marques era meu Amigo, editor de Educação do Inconveniente, colega professor e companheiro na intervenção pública.

Era licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, mestre em Ciências da Educação pela Boston University e Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Aveiro. Professor na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Santarém, lecionou também noutras instituições de ensino nacionais e estrangeiras. Creio que foi o maior pedagogo português deste tempo, com dezenas de livros publicados sobre Pedagogia e Ética, além de artigos e outras publicações.

Dirigiu a Escola Superior de Educação e foi Prò-Reitor do Instituto Politécnico de Santarém. Visionário, propôs há cerca de vinte anos a transformação desse instituto politécnico em universidade, uma ambição que não chegou a ver concretizada. Foi convidado em 2012 para dirigir a Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, mas já não aceitou devido a constrangimentos graves de saúde. Foi ainda membro do Conselho Nacional de Educação.

Na intervenção pública, nos seus blogues (nomeadamente, o famoso ProfBlog) destacou-se, durante o consulado rosa-choque de Sócrates, pelo desassombro da promoção de uma educação eficaz, baseada nos valores e no mérito, livre da influência totalitária neo-marxista, pós-moderna, relativista e politicamente correta. Católico, conservador, admirador dos filósofos clássicos, denunciava, aberta e corajosamente, a degeneração social provocada pela subversão ideológica do neomarxismo de Gramsci, da escola de Frankfurt, dos filósofos franceses pós-modernos, tudo convertido no socialismo estatizante, ocioso, criador da subsidio-dependência e corrupto. Por causa disso, foi objeto de cancelamento avant la lettre e de perseguição pessoal e familiar.

No Inconveniente, participou no projeto inicial e ocupou-se dos temas de educação e da questão cultural, o que continuou enquanto a saúde deteriorada lho permitia e apesar de o ato de escrever lhe acarretar dores insuportáveis. Suportava em silêncio, e com a mesma bonomia, afabilidade e humildade de sempre.

Tornámo-nos amigos como resultado do percurso entusiasmante da blogosfera, em meados dos anos 2000. Tínhamos longas e profundas conversas sobre a degradação do País e da sociedade, da academia e das escolas, a infiltração do relativismo na política e até na Igreja. Dele recebi conselhos muito úteis e proféticos, inclusive sobre economia, palavras de apoio e encorajamento.

O seu excelente trabalho na formação de milhares de alunos, na publicação de obras sobre pedagogia e a intervenção cívica, sucede-lhe como semente de instrução, de verdade e de esperança.

Apresento, e também em nome dos colaboradores, o meu pesar à sua “extraordinária mulher” (como ele a designava) e ao seu brilhante filho, e demais família, por quem também rezo. Deus o acolha na Sua Paz!

António Balbino Caldeira
Diretor