Editorial – Um animal sozinho

José Sócrates compareceu à leitura da decisão instrutória do Processo Marquês, no dia 9-4-2021, o que já era um sinal que esperava não ser pronunciado por nenhum dos crimes de que fora acusado. Todavia, o juiz Ivo Rosa não lhe fez toda a vontade e acabou a pronunciá-lo por 3 crimes de branqueamento de capitais e outros 3 crimes de falsificação de documento, declarando corrompido pelo seu criado Carlos Santos Silva (?!…). Em vez da glória, saiu calado. E está zangado com António Costa, que considera o mandante deste destino.

Estas multas de trânsito não darão em nada, pois não só a extração de certidão para averiguação de alegada nulidade na atribuição de processo ao juiz Carlos Alexandre, mas outras nulidades que aponta ao processo terão de ser avaliadas também noutros processos e recursos, ainda que desta decisão não caiba ao arguido recurso. Aliás, já dirimida há cerca de dois anos como perfeitamente regular pelo Conselho Superior de Magistratura (o que o juiz 2 do TCIC certamente conhecia).

Mas Sócrates, na sua megalomania e arrogância, queria não só uma excelente porta para fugir do processo, como também a glória de não ser pronunciado por nada, devido a justificação formal e substancial, uma decisão judicial de que nenhum crime tinha cometido. Isso não obteve.

António Costa esfrega as mãos de contente e a sua vontade, essa sim, foi respeitada: deixar Sócrates livre de pena futura, pela dilação dos processos, sem a vingança prometida aos correlegionários que não o protegessem, a qual afligiu Mário Soares na cadeia de Évora e que poria o PS sob fogo; mas entretido no jogo dos recursos e contestação popular. Se, por azar de marquês, sofrer uma pena daqui por muitos anos e ainda estiver vivo (Deus Nosso Senhor lhe guarde a saúde!) jamais recolherá aos calabouços, demorando a ordem de prisão e surgindo as razões ocultas de demência ou fragilidade física: a nova moda dos condenados sistémicos.

Sócrates pode regressar à política, mas na sombra. Tal como o seu arqui-inimigo Paulo Pedroso – que agora vingou a ação de Sócrates no processo Casa Pia com a piedosa declaração de solidariedade –, não têm condições de ser candidatos a cargos políticos, pois o povo português não aceita. Todavia, vai fazer valer os 34 milhões conhecidos nos média (por detrás do grupo Bel, na Aximage, DN, JN, Dinheiro Vivo e TSF, e com influência na TVI por via do seu amigo Sérgio Figueiredo). Além da vida de fausto que agora pode fazer no estrangeiro, com menos discrição. Ainda que lhe desagrade relegar-se já para a penumbra de king-maker.

Sócrates já não é “um animal feroz”. E, apesar dos milhões, está agora sozinho no seu labirinto de mentiras.


António Balbino Caldeira
Diretor

* Este artigo foi emendado às 20:32 de 17-4-2021.

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