Domingo à noite, 22-2-2021, no Santuário de Fátima deserto. Ninguém na Capelinha das Aparições, salvo a Senhora, coberta pelo manto celeste, que intercede pelo alívio dos homens. Apesar dos bancos mais afastados e com autocolantes a lembrar a necessidade de distanciamento físico.
A praça, uma das maiores do mundo, tem grades como obstáculos. Mas é possível contornar as vedações metálicas e aceder aos locais de oração.
No tocheiro ardem algumas poucas velas, como símbolos de aflição e de súplica.
Roda-se a câmara para captar a cena e não se deteta vivalma. O habitual silêncio de meditação, deu lugar ao vácuo que absorve os sons, à míngua de prece.
A pandemia isola até Deus, carente da devoção física dos cristãos que oram à distância aprisionados no desespero do confinamento, a atividade encerrada, a circulação proibida, a informação censurada, a opinião restringida, a cultura sujeita ao cancelamento mediático, os dissidentes da ordem totalitária banidos.
A liberdade suspensa pela vigilância do Big Brother politicamente correto. Um Deus ex machina, materialista e imanente, cuja sombra tapa a luz da vida e quer substituir a fé pelo medo.
Contudo, a mensagem da Virgem é firme: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”…
António Balbino Caldeira