Cultura da intolerância

A esquerda criou um novo conceito, “cancel culture”, para legitimar a censura, o policiamento da linguagem e a perseguição dos adversários políticos ou culturais.

Esse conceito fez escola nas universidades e é nesses espaços educativos e culturais que a cultura de cancelamento, perseguição e policiamento da linguagem, mais se faz sentir.

No essencial, o conceito quer dizer banir uma pessoa do espaço público, remetendo-a ao silêncio com o argumento de que a pessoa banida disse ou escreveu qualquer coisa politicamente incorrecta, ofensiva ou desviante.

A “cancel culture” é uma máquina de produzir dissidentes e tem sido um instrumento de conquista e reforço do poder político da esquerda. Começou nas universidades e estendeu-se pelas redes sociais e pelos media tradicionais. Embora a “cancel culture” tenha atingido a sua expressão máxima nos EUA, está presente, hoje em dia, em todo o Ocidente. As suas vítimas são, sobretudo, intelectuais de direita, autores e professores que não se vergam ao paradigma da correcção política.

Uma vez identificado o dissidente, este vê a sua vida presente e passada devassada e exposta na praça pública. A perseguição é feita pelos que se arrogam estar na posse do Bem e da Virtude, os quais, organizando-se em matilha, assumindo-se como brigada do Bem, despejam sobre o dissidente toda a espécie de insultos e ameaças.

Os adeptos da “cancel culture” justificam a perseguição e ostracização dos adversários sempre que estes exprimem uma linguagem ou uma acção desviante, considerada incorrecta por uma esquerda que se diz detentora do Bem e da Virtude. A esquerda justifica a censura e a perseguição com o princípio caro aos totalitários: os fins justificam os meios. Usando a dialéctica marxista, os puros são eles, os detentores do Bem, e os impuros são os outros. Todos os meios são legítimos na guerra cultural contra os impuros. A finalidade culminante é a criação de um Mundo onde impera o pensamento único e a linguagem correcta.

Apesar de a esquerda andar associada, há séculos, pelo menos desde a Revolução Francesa, à tirania, intolerância e ódio de classe, ainda há pessoas que acham que a esquerda é bem intencionada, isto é, visa a igualdade social, procura o Bem e a Virtude, concedendo-lhe uma superioridade moral que a práxis histórica desmente.

O que a História confirma é que, onde quer que a esquerda controle o poder político, abre-se o caminho para a tirania, a censura, policiamento da linguagem e expulsão dos adversários do espaço público.


Ramiro Marques

* O autor usa a norma ortográfica antiga.

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