Covid-19: Ivermectina continua a dar que falar

No início desta pandemia da Covid-19, declarada a 12-03-2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), temia-se que ela afetasse sobretudo os países pobres, nomeadamente muitos países de África, dada a sua escassez de recursos e infraestruturas ao nível sanitário.

Um ano depois, verifica-se que, numa certa zona de África, a doença está a ser bastante benigna, com poucos casos e mortes. A julgar pela ausência de relatos de situações preocupantes nos países daquela zona, podemos considerar a fiabilidade dos dados.

O Inconveniente procurou saber quais os países mais e menos afetados pela pandemia da Covid-19. Obteve-se um mapa das mortes totais por Covid a nível mundial no site Our World in Data, referente ao dia 12-02-2021 (ver imagem neste artigo), a que se adiciona outros dados, como se vê mais abaixo.

A Ivermectina é um antiparasitário com várias indicações, entre as quais o combate à doença parasitária oncocercose que ocorre em África e na Améria do Sul e Central. Orientados por suspeitas levantadas em alguns artigos onde se defende e fundamenta o uso da Ivermectina para a prevenção e tratamento da Covid-19, chega-se ao portal da OMS onde se pode localizar uma página sobre o Programa de Controle da Oncocercose (OCP), levado a cabo entre 1974 e 2002, e outra sobre o Programa Africanopara o Controle da Oncocercose (APOC) que decorreu entre 1989 e 1994. Nestes dois programas houve uma distribuição gratuita e massiva do fármaco Mectizan® (ivermectin) da Merck.

Juntando os países do continente africano abrangidos pelos dois programas de controle da oncocercose, obtém-se o mapa a azul e verde, ao qual se pode sobrepôr o mapa geral das mortes cumulativas de Covid por milhão de pessoas:

Parece haver uma correspondência imediata entre os mapas dos países africanos que usaram massivamente a Ivermectina e daqueles que não foram gravemente afetados pela Covid. Trata-se, efetivamente, de uma coincidência que mereceu a atenção de vários investigadores ao redor do mundo.

Um grupo de investigadores australianos levou a cabo um ensaio in vitro que foi publicado na conceituada revista Science Direct (Vol.178, Junho de 2020). O estudo indica que, nas condições do ensaio, a Ivermectina elimina o vírus. Com base neste ensaio foram efetuados, em vários países, ensaios clínicos limitados, com o intuito de determinar se esse medicamento poderia ser usado com eficácia no combate à Covid.

A descoberta australiana foi alvo de notícia nos média e, tratando-se de um medicamento barato e seguro, fez disparar, em diversos países, a procura pelo medicamento. Principalmente naqueles países em que a sua venda não está sujeita a receita médica ou em que as autoridades de saúde não se opõem ao seu uso, muitos médicos começaram a aconselhá-lo aos seus pacientes. Sem certezas absolutas mas apoiados, na longa e vasta experiência acumulada no uso do medicamento.

A oncocercose tem também focos na América do Sul e Central, onde a Ivermectina foi distribuída gratuitamente pela farmacêutica Merck. Porém, só a pedido dos países afetados e apenas para combater os focos de infeção. De acordo com a Pan American Health Organization, a transmissão da oncocercose foi interrompida em 11 dos 13 focos existentes.

Desconhece-se se a Ivermectina terá tido uma distribuição maciça na América do Sul, mas países como Cuba, Haiti, Rep. Dominicana, Guatemala, Honduras, Costa Rica, Venezuela, Guiana, Suriname, Paraguai e Uruguai, reportam muito poucas mortes por milhão de habitantes. Seria necessária uma análise mais fina para determinar se a Ivermectina está relacionada, na América do Sul, com um efeito protetor contra a Covid.

A Índia é também um dos países poupados pela Covid. Apesar de poder haver outras razões para o seu sucesso na luta contra a doença, há relatos de que ali se pratica o uso generalizado da Ivermectina.

Já o Brasil, depois da polémica da hidroxicloroquina – apesar de resultados positivos (ver HCQ is effective for COVID-19 when used early: real-time meta analysis of 206 studies Covid Analysis, Oct 20, 2020 (versão de 17-2-2021), a campanha internacional contra o medicamento produziu os efeitos esperados -, tal como a cloroquina, passou a incluir a Ivermectina no kit de combate à Covid.

Para além da Ivermectina, vários outros medicamentos já existentes têm sido alvo de notícias animadoras como potenciais armas contra a Covid, mas não parece haver grande vontade de os ensaiar e de esclarecer inequivocamente a sua eficácia e segurança. As notícias são veiculadas, criam expectativas e algum alívio nas pessoas, mas acabam por não obter nenhum resultado prático, caindo-se, deliberadamente ou não, no esquecimento.

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Sub-diretor do Inconveniente

Latest comment

  • A Ivermectina é muito barata. Como tal é apropriada para ser usada em países pobres.
    A Merck (conhecida por Merck Sharpe & Dohme fora dos USA e do Canadá) até o oferece.
    Agora, inquirida sobre o que achava do seu produto na covid, a MSD, naturalmente, fechou-se ‘em copas’.

    A Ivermectina levou um Japonês (inventou-a) e um Norte-Americano (estudou-a) a ganhar parte do Nobel de Medicina e Fisiologia. Há uns 30 anos.

    A indústria farmacêutica não é como a conheci. São empresas com accionistas e trabalham para estes e não para a Humanidade. Daí se oporem a medicamentos antigos e baratos. Preferem os novos e caros ou aquilo que chamam de ‘vacina’ — é tão só engenharia genética. Esta indústria conseguiu obter dos governos de grandes ($$$) países não só:
    1. a dispensa de experimentação animal (contra a declaração de Nuremberga, os humanos serão as cobais).
    2. a isenção de todas as penalizações dos contratempos que pudessem aparecer.

    Gates está lá todo metido e subsidia em grande a Universidade de Johns Hopkins.

    Vamos ter guerra a sério…

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