O estudo “Neutralização multiclonal de SARS-CoV-2 por anticorpos isolados de doadores convalescentes de Covid-19 grave” (1), publicado em 11-2-2021, da autoria de investigadores autónomos da Universidade de Telavive, Israel, demonstra que a maioria da população consegue produzir anticorpos contra o síndrome respiratório vulgarmente conhecido como Covid-19. Por outro lado, o mesmo estudo apoia a conceção alternativa de que os doentes de Covid-19 podem ser tratados com terapêuticas de anticorpos combinadas de uma forma similar a tratamentos recentes desenvolvidos na área da oncologia, nomeadamente para o cancro da mama.
O estudo extrapola que grande parte das pessoas diagnosticadas como infetadas com Covid-19 transportam anticorpos que neutralizam a proteína recetora da Sars-CoV-2. O que significa, essencialmente, que desenvolveram imunidade robusta e duradoura ao vírus. Todavia, ainda não é completamente claro, com as evidências de momento disponíveis, o que explica a durabilidade na imunidade atingida por uma parte substancial da população que terá estado infetada.
As técnicas alternativas aplicadas nesta investigação foram uma combinação de bioinformática e biologia molecular que capacitaram a interpretação de que a maioria dos seres humanos têm capacidade de produzir naturalmente anticorpos contra o Sars-Cov-2 e casos de doença grave de Covid-19. Por outro lado, os autores também argumentam que a combinação de anticorpos de diferentes tipos (em forma de “cocktail de anticorpos”), bloqueia em absoluto o vírus de se disseminar no corpo de cada indivíduo. Esta combinação de anticorpos pode, assim, ser uma opção de tratamento e prevenção do Covid-19.
A relevância deste estudo, e outros similares que estão em fase de publicação pelo mundo, indicia uma opção complementar às vacinas em desenvolvimento por uma série de laboratórios farmacêuticos internacionais. Um problema que tem sido identificado em alguns estudos é que alguns idosos parecem continuar suscetíveis à infeção pelo vírus mesmo depois de terem sido vacinados.
Os autores deste estudo alternativo sugerem que só com a combinação de anticorpos que neutralizem o vírus é possível a efetividade do tratamento e prevenção dos casos graves de Covid-19, especialmente, os idosos e doentes com doenças respiratórias severas, pois estas pessoas dificilmente conseguem produzir anticorpos mesmo depois de serem vacinados.
Para Portugal, na medida da procura de soluções no melhor interesse nacional, este tipo de novas evidências poderá ajudar os decisores a equilibrar a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a garantir o melhor impacto do investimento e despesa pública alocado ao tratamento e prevenção dos efeitos da Covid-19.
De momento, os decisores nacionais (Ministério da Saúde e primeiro-ministro) estão focados em exclusivo na vacinação, o que contraria as evidências internacionais que sugerem uma abordagem alternativa sobretudo para os idosos e doentes crónicos, precisamente os grupos identificados como prioritários para receberem uma das vacinas oferecidas pelos laboratórios comerciais. O risco apontado por estes estudos é de que em Portugal, daqui por alguns meses, tenhamos casos graves de re-infeção de idosos e doentes crónicos que já tinham recebido a vacina.
Uma outra implicação do estudo é de que volta a colocar-se a alternativa da promoção da imunidade de grupo como uma alternativa justificada contra a doença, conforme vários países tentaram.
Paulo K. Moreira
(1) “Multi-clonal SARS-CoV-2 neutralization by antibodies isolated from severe COVID-19 convalescent donors”, por Michael Mor, Michal Werbner, Joel Alter, Modi Safra, Elad Chomsky, Jamie C. Lee, Smadar Hada-Neeman, Ksenia Polonsky, Cameron J. Nowell, Alex E. Clark, Anna Roitburd-Berman, Noam Ben-Shalom, Michal Navon, Dor Rafael, Hila Sharim, Evgeny Kiner, Eric R. Griffis, Jonathan M. Gershoni, Oren Kobiler, Sandra Lawrynowicz Leibel, Oren Zimhony, Aaron F. Carlin, Gur Yaari, Moshe Dessau, Meital Gal-Tanamy, David Hagin, Ben A. Croker and Natalia T. Freund, 11 Fevereiro de 2021, PLOS Pathogens.
Joaquim J Lopes / Fevereiro 21, 2021
De facto foram utilizados tratamentos com base em anticorpos monoclonais e multiclonais, com o propósito de bloquear a zona da proteína S ou Spike Protein, retiradas de pacientes convalescentes de Covid 19. No entanto, hoje há centros que pensam que esses tratamentos experimentais provocaram alteração na mesma zona do vírus provocando mutações importantes a esse nível, podendo algumas das novas mutações serem impedimento à eficácia das vacinas que apostaram apenas na região da Spike Protein ou S, porque usam apenas mRNA que dá origem à produção da referida proteína “like”, Se o vírus se alterou como acontece com as várias novas estirpes ou novos vírus e novas epidemias e não ondas como se fala, basta olhar para os gráficos na linha do tempo, os anticorpos produzidos pela vacina podem ter perdido a janela ou o local onde iriam bloquear a Spike protein no caso de infecção pelas novas estirpes e logo baixar de forma significativa a eficácia das vacinas que seguiram esse critério único.
Por outro lado, não sabemos ainda como medir a outra imunidade, talvez a mais efectiva ou seja a imunidade celular. mais tardia e mais eficaz no tempo, dando como exemplo o caso mais conhecido o da BCG para a tuberculose que é uma vacina com caracteristicas únicas.
Na gripe usam-se várias estirpes com maior ou menor eficácia e sempre a prever que no ano a vacinar apareça uma estirpe de que faça parte o vírus que se escolheu nesse ano.
A vacina chinesa apostou num vírus corona inactivado foi uma estratégia para produção de anticorpos em que grande parte dos elementos do vírus estão representados, ou seja não apostou apenas numa região específica e pelos vistos muito mutante como a região da Spike Protein, uma vacina multi- estirpe, incluindo a inicial e as actuais mutantes, inactivada não faria mais sentido? A vacina deste ano ou seja a de 2020/2021 da Influenza este ano foi feita com 4 estirpes. Pronto dei a minha opinião como prático.
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JJ Lopes / Fevereiro 21, 2021
Com todo o respeito pelo Sr Dr Paulo Moreira
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JJLopes / Abril 3, 2021
Por outro lado, estes anticorpos podem para além de provocar mutações genéticas importantes na zona da Spike Protein, são como dizer, consumíveis.
A outra questão da imunidade celular até mais importante que a mediada por anticorpos, por doença prévia ou por vacinas, não é mensurável ou seja não há teste que permita saber se temos essa imunidade e até se temos mais ou menos.
Dou o exemplo da tuberculose: no tempo de Leonor Beleza deixou de se fazer a BCG, vacina para a tuberculose, mais tarde fazia-se o teste da tuberculina no antebraço e media-se (literalmente com uma pequena régua quantos mm de induração ou vermelhidão), porque o bacilo da tuberculose provoca imunidade celular, pelas suas características. Há cerca de 1-2 anos voltou-se quanto a mim bem a fazer a BCG, mas a DGS obriga a um interrogatório antes de a realizar, entretanto a vacina é dada. Porque a tuberculose continua endémica em muitos locais.
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