Como fabricar verdades (in)convenientes

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Em 1973, quando os membros da Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OPAEP) proclamaram um embargo petrolífero aos países que apoiaram Israel durante a guerra de Yom Kippur, deu-se o primeiro choque do petróleo. O preço do barril de petróleo subiu de US$3 para US$12. Em 1979, o preço subiu ainda mais quando se deu a revolução iraniana que depôs o Xá Reza Pahlevi.

Estes foram os dois maiores choques do petróleo, mas outros houve ainda como o de 1956 com a nacionalização do canal do Suez pelo Egito e depois em 1991 durante a Guerra do Golfo.

Foi nesta altura que surgiram na Europa diversas ideias sobre como evitar as crises económicas derivadas dos choques petrolíferos. Impunha-se descobrir alternativas ao petróleo para além do nuclear e uma vez que esta energia só era viável na produção contínua de eletricidade à potência máxima, incompatível com a variação da procura. Além disso, em 1986 deu-se o acidente nuclear de Tchernobyl que fez cancelar os planos de expansão da energia nuclear.

Em países como a Dinamarca, Alemanha, Inglaterra e um pouco por toda a Europa, nasceu (ou renasceu) o interesse pelas energias alternativas como o vento, biomassa, ondas do mar, solar, etc., Mas depressa se percebeu que havia um grande problema com o aproveitamento dessas fontes de energia – requeriam grandes investimentos e a energia seria mais cara que a do petróleo, mesmo que este sofresse grandes subidas de preço. Outro grande problema era a intermitência de algumas fontes como o vento e o sol.

Isso não impediu que surgissem grupos defensores dessas alternativas energéticas e criaram-se empresas que nelas apostaram, primeiro para aplicações onde elas podiam competir, regiões afastadas das redes ou ilhas. Mas o mercado era limitado e as tecnologias ainda incipientes precisavam de mais estímulo do mercado para vingarem.

Vários projetos piloto eram financiados pelos governos com o intuito de desenvolver a tecnologia e ajudar a reduzir a dependência em relação ao petróleo e outros combustíveis importados. Aliás, esta foi a motivação principal no desenvolvimento da energia eólica e solar. As motivações ecológicas vieram depois mas não foram suficientes para ganhar a competição entre as renováveis e as fósseis, tanto mais que o gás da Rússia e do Norte de África prometiam uma redução significativa da poluição do petróleo e do carvão na Europa, e a instalação de filtros e catalisadores também reduzia muito o problema da poluição.

Faltava um argumento poderoso que levasse à opção pelas renováveis e abandono progressivo dos fósseis. E o argumento tinha que ser tão forte que tornasse o uso dos fósseis num ato, não só indesejável, mas criminoso até. Começou a espalhar-se o boato de que o CO2 libertado pelos fósseis estaria a acelerar o aquecimento do planeta. A ideia não era nova mas não passava de uma teoria com mais de cem anos. Não havia certezas ainda, mas foi neste contexto que, em 1988, a primeira-ministra Margaret Thatcher disse nas Nações Unidas: “O problema da mudança climática global afeta todos nós e a ação só será eficaz se for tomada a nível internacional. Não adianta discutir sobre quem é o responsável ou quem deve pagar.”

Nesse mesmo ano, a Organização das Nações Unidas criou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para avaliar as evidências científicas de que o aquecimento global era de origem humana pela utilização dos fósseis.

Em 1992, os líderes mundiais concordam com a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, que estabelece uma meta não obrigatória de estabilizar as emissões de gases de efeito estufa até 2000 nos níveis de 1990. A meta não foi atingida e o consumo de fósseis não parou de crescer.

Em 1995, o IPCC (a ONU) concluiu, pela primeira vez, que o responsável pelo aquecimento global era o Homem, dizendo: “O balanço das evidências sugere uma influência humana percetível no clima global.”

No Protocolo de Kyoto no Japão, em 1997 as nações desenvolvidas concordaram em reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 5% abaixo dos níveis de 1990 até dezembro de 2008. Os Estados Unidos não entraram neste negócio.

Em 2001 o IPCC (a ONU) conclui que é provável, com 66% de certeza, que as atividades humanas sejam a principal causa do aquecimento global.

Em 2007, o mesmo IPCC (a ONU) altera o seu nível de certeza para 90%, já é quase certo que é o Homem o responsável pelo aquecimento global. Isto depois de, em 2006, ter surgido um livro chamado Uma Verdade Inconveniente, escrito pelo americano democrata Al Gore que perdeu, em 2000, as eleições presidenciais americanas a favor de George W. Bush.

Logo nesse ano de 2007, Al Gore e o IPCC (a ONU) vencem o prémio Nobel da Paz pelos seus esforços na “construção” e disseminação de “um maior conhecimento” (?) sobre as alterações climáticas induzidas pelo homem, e por lançarem as bases necessárias para reverter tais alterações. Este “prestigioso prémio”, tantas vezes usado com motivações políticas, acabaria por elevar o grau de certeza do Aquecimento Global Antropogénico para 100%.

Hoje, esta “verdade” é aceite por mais de 200 governos de todo o mundo, e condiciona os seus planos de atuação. Não há projeto municipal ou nacional nem empreendimento industrial, agrícola ou pecuário que não cite as “alterações climáticas”, os “acordos climáticos”, as “metas climáticas”, a “transição climática”, etc.

O eco que esta “verdade” encontra nos meios de comunicação, bem como nos programas de ensino, faz com que toda a gente a aceite acriticamente, passando a fazer parte do politicamente correto e fazendo daqueles que dela duvidam os “negacionistas”, os autores de teorias da conspiração, reacionários, fascistas de extrema-direita!…


Henrique Sousa
Editor de Energia e Ambiente do Inconveniente

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Sub-diretor do Inconveniente

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