Li há tempos, com um sorriso nos lábios e de sobrolho franzido, que a democracia funciona quando há só duas pessoas a decidir e uma delas está doente. A frase é irónica mas reflecte a grande crise que a democracia está a atravessar nos nossos tempos.
A democracia está debilitada, a oposição está doente e é carente de vitaminas; não tem força nas ideias nem a coragem necessária para sair da cama das frases feitas.
Não há democracia sem representação e sem pluralismo. Hoje é impensável poder tomar decisões na praça pública, como na antiga Grécia, contando os votos expressos com o braço levantado.
Representação, porque as questões a resolver num país são tantas e tão diferentes entre si, por complexidade, interesses e importância, que requerem a análise, o estudo, o debate e também competências específicas.
Pluralismo, porque é sempre preciso contrastar a tendência totalitária de reduzir as diferenças e a diversidade com a imposição de um único modo de ser, de estar e de pensar. Sabe-se que a mente totalitária assim como o fanatismo se baseiam sobre princípios opostos e rígidos: dum lado há o bem e do outro o mal, o justo e o injusto, os bons (eles) e os maus (os outros).
Por outro lado o Populismo, que tem alastrado nas democracias ocidentais como uma mancha de óleo, veio baralhar as cartas.
Os políticos sentem-se autorizados a falar em nome do povo, em geral, como se este fosse uma entidade homogénea com uma vontade comum. Pretendem identificar-se com ele, esquecendo que não é verdade o contrário, porque só uma parte do povo os votou.
Confundem a responsabilidade do poder, que lhes é conferida pelos votos, com a propriedade do poder a que tão gulosa e avidamente aspiram.
Com a certeza cartesiana do “Penso, logo voto”, o Povo vota promessas sob forma de slogans. As pessoas votam caras, raramente os programas de acção que se escondem por detrás delas.
Os eleitores fidelizam-se com facilidade ao “já conhecido” e quando decidem pôr a cruz noutro partido é na esperança temporária que os seus novos representantes eleitos sejam diferentes e se comportem melhor do que os antecessores.
Por fim, é preciso ter em conta e não ignorar a leitura e manipulação dos números: um Partido que se diz primeiro entre outros é sempre segundo depois do grande Partido dos Abstencionistas no qual confluem os indecisos, os desiludidos e os indiferentes.
Maria J. Mendes
*A autora escreve segundo a anterior norma ortográfica.
Isabel Pecegueiro / Março 6, 2023
Pertinente reflexão sobre a democracia e os perigos que corre nos nossos dias. A crescente abstenção, entre nós, reflecte de facto o desencanto e, infelizmente, a ausência de esperança em muitos Portugueses que se cansaram de esperar por um país desenvolvido e verdadeiramente Europeu. Temos agora, reconhecidamente uma ” democracia imperfeita”, quase ” venezuelizada”.
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Rui Caldeira / Março 7, 2023
Chama-se “pântano socialista”.
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JC / Março 8, 2023
Excelente artigo mas muito INconveniente para actual classe pulhitica.
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