
Há cerca de três mil anos, David dirigiu-se a Deus, expressando a sua vontade de construir um templo para o Senhor em Jerusalém. No entanto, Deus tinha outros planos. Ele tinha uma grande profecia destinada para o rei do Povo Escolhido. Portanto, fez-lhe uma série de grandes promessas.
Desde que Deus comunicou a sua vontade ao Rei David já passaram cerca de três milénios. No decorrer desses milénios, as palavras de Deus foram interpretadas de várias maneiras. Inicialmente vistas como uma promessa por cumprir, ou cumprida, já na vida de David pelos judeus, mais tarde vista pelos católicos como uma promessa cumprida parcialmente (que se completaria na vinda do Reino de Deus) e no século XVI reinterpretada pelos protestantes sob o seu princípio da “sola scriptura”. É evidente, por isso, que poderá ser interessante o contraste entre as várias interpretações da Bíblia, assim como as diferenças entre as várias crenças.
Este trabalho visa investigar e responder às seguintes questões: “De que maneira é que as promessas ao Rei David são cumpridas na vida de Jesus Cristo? Quais as diferenças entre as interpretações judaica, luterana e católica desta passagem e quais as fontes dessas divergências? De que modo é que estas promessas são um prenúncio da Santa Missa, de Nossa Senhora e do Santo Padre?”. O meu objetivo é, portanto, compreender as promessas de Deus ao Rei David e a sua importância na História da Igreja assim como as várias interpretações deste acontecimento, em particular, estabelecendo um paralelo com o judaísmo e o luteranismo.
No que respeita ao povo judaico, descendente de Abraão, este acreditava ser o único destinatário da Salvação: era o Povo Escolhido, do qual viria o Messias. Deus foi escolhendo profetas e patriarcas ao longo dos anos para guiar o seu povo e preparar a vinda do Messias. Como os judeus não acreditam que Jesus é o Messias, acham que Deus está há milénios sem enviar ninguém, como se estivesse a fazê-los aguardar. Após catástrofes como a perda da terra prometida e o Holocausto, muitos judeus perderam a esperança, ou acharam que Deus os estava a castigar ou abandonar, e outros mantêm-se firmes nas suas crenças. Surgem também várias divergências neste grupo religioso em relação ao cumprimento, ou não, das promessas feitas por Deus: uns entendem que as promessas se cumpriram na vida de David, outros dizem que só se cumprirão na vinda do Messias
Com a vinda de Jesus Cristo, surgiu o Catolicismo, que criou uma certa disrupção com o que os judeus pensavam até então acerca da justiça, da fé e da caridade. Muitos judeus não acreditaram em Cristo e continuaram à espera de um Messias que nunca viria. No final da sua vida, com as diretrizes que atribuiu aos apóstolos, Jesus Cristo instituiu formalmente a Igreja Católica e outorgou-lhe o papel importantíssimo de continuar o que Ele começou, tendo por missão a salvação das almas. Em relação à interpretação das Sagradas Escrituras, os Católicos têm verdades inegáveis (dogmas) da Fé Católica que não são postas em causa e verdades que ainda estão por provar ou argumentar, não sendo “obrigatório” crer nelas. Os dogmas são aprovados ou não pelo Magistério da Igreja, com a autoridade que Jesus lhe deu, não estando correto, segundo a Igreja, criar interpretações individuais, já que só a Igreja pode interpretar correta e infalivelmente as Sagradas Escrituras. Há dogmas da fé que não estão explicitamente escritos na Bíblia, mas que a Igreja Católica defende com a tradição cristã (como a Imaculada Conceição). A Tradição Cristã é o conjunto de verdades, ensinamentos, doutrinas e práticas da Igreja transmitidos por líderes da Igreja ou fiéis, oralmente ou por escrito. Com a tradição cristã, a Igreja pode ter algum novo dogma com o passar dos anos, pelo que a sua fé se vai completando gradualmente.
Ainda que a Igreja tenha tido diversas separações ao longo da História, de poucas se pode dizer que foram tão marcantes do que o luteranismo, que vincou o movimento protestante no século XVI. O seu fundador, Martinho Lutero, era um monge alemão que, face à degradação da Igreja e da discrepância desta com as ideias dele, decidiu afixar uma série de teses contra a Igreja que marcariam o início do seu cisma. Os luteranos acreditam no princípio da sola scriptura, pelo que só crêem naquilo que está explicitamente escrito na Bíblia, e também não veneram Maria nem os santos. O luteranismo foi uma grave separação da Igreja, tem grandes diferenças face aos católicos, e estas manifestam-se logo na interpretação das promessas ao Rei David.
A primeira promessa que Deus faz a David é a de um reino, que é interpretado indiscutivelmente como um reino messiânico, já que Deus fala num primogénito que se fará rei e que será superior a todos os reis da Terra.
Em seguida, Deus menciona a promessa de uma dinastia da qual viria o Messias. Os cristãos consideram que esta promessa já foi cumprida, pois Jesus Cristo é descendente de David. Os judeus, por outro lado, creem que esta promessa foi cumprida apenas em parte, já que a dinastia de David foi interrompida. No entanto, o Talmud acredita que esta promessa será um dia cumprida quando chegar o reino messiânico, havendo ainda judeus que pensam que isto pode ter-se cumprido na vida de Salomão, já que este foi rei de Israel.
A promessa que Deus faz a seguir está muito ligada a esta. Deus continua a falar sobre o Messias, o escolhido ou o ungido (Cristo). O Senhor promete agora a vinda do seu Filho, com um reino ilimitado e total. Para os cristãos isto foi cumprido na vida de Jesus Cristo e ainda será completado com a vinda definitiva do Reino de Deus. Os judeus, por outro lado, continuam à espera da vinda do Messias, que acreditam que terá um domínio muito mais material deste mundo, muito diferente da infinita humildade do sacrifício de Jesus Cristo.
O Senhor menciona também um templo, que para os judeus é apenas o edifício que David planeou, que Salomão construiu, que foi destruído e que, segundo o Talmud, será reconstruído. Os cristãos vêem, porém, um significado para além do que aqui está escrito. Jesus disse que reconstruiria o templo em três dias, sabemos por isso que Jesus se identifica a si mesmo como o templo de Deus.
Na sua obra pedagógica Understanding The Scriptures, Scott Hahn (2005) menciona características secundárias desta grande promessa referentes a Nossa Senhora, ao Santo Padre e à Santa Missa.
A ideia de Rainha-Mãe, assinalada pelo autor, era interpretada pelos judeus como simplesmente a figura da mãe do rei, como parte do governo real. Os católicos vêem, porém, esta figura como um prenúncio da Rainha dos Céus e da Terra, Nossa Senhora, a mãe do salvador. Isto fundamenta em grande medida a importância que os católicos dão a Nossa Senhora, destacando-a do resto da humanidade. Assim, do ponto de vista católico, parece estranho que os luteranos, defensores do princípio da “sola scriptura”, ignorem a figura da Rainha-Mãe, ignorando consequentemente a importância que lhe é dada nas Sagradas Escrituras.
Em seguida, Scott Hahn fala de um primeiro-ministro, uma nova figura que apareceu no reino. Segundo as palavras de Jesus (quando entrega as chaves do Reino a Pedro) e de Isaías, os católicos acreditam que isto se refere ao Santo Padre, sendo os únicos que vêem um significado neste tópico.
Por último, Deus instituiu a ação de graças como celebração litúrgica principal no templo. O pão e o vinho que os judeus viam como uma oferenda para dar graças ao Senhor tornar-se-á na atual Santa Missa, o sacrifício do corpo e sangue de Jesus Cristo (os luteranos acreditam que tal é apenas um símbolo ou memória de Jesus).
Após analisar esta passagem do Antigo Testamento, torna-se, para mim, evidente que Jesus é o Messias, já que todas as promessas se parecem cumprir minuciosamente na vida d’Ele.
Também é interessante ver como as interpretações judaica, católica e luterana são divergentes em certos tópicos.
Os judeus continuam à espera de uma resposta a estas promessas.
Os luteranos têm como que pontas soltas, que a sua perspetiva da sola scriptura não explica, tais como o da Rainha-Mãe ou o primeiro-ministro, em quem não acreditam ou tendem a ignorar, a desvalorizar. Talvez pelo desagrado que sentem relativamente à ideia de uma Igreja centralizada e à veneração a Nossa Senhora. Os católicos parecem, a meu ver, ter uma explicação mais integral e completa para os aspetos aqui referidos, alicerçando a sua fé numa forte base teológica e bíblica. As diferenças que há entre as várias interpretações revelam, ainda assim, as roturas que os homens criaram no plano de Deus para a salvação de todos nós.
Francisco Pou Brujas
Estudante do 10.º ano
* Ensaio foi escrito para a disciplina de Religião do Colégio Planalto (Lisboa).
Referências: Hahn, Scott (2005). Understanding the Scriptures: a complete course on Bible study. Midwest Theological Forum.
Maria J. / Maio 9, 2023
A jovem idade do autor e a dificuldade da temática escolhida, justifica em parte a superficialidade do ensaio.
Um livro entre tantos: “Diálogo sobre Jesus” – de Corrado Augias e Mauro Pesce.
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Joao Malhao / Maio 9, 2023
Acho o ensaio muito fraco e que o tema foi apenas explorado em parte deixando muito a desejar
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Miguel Pires / Maio 9, 2023
Um interessante enfoque para comparar as religiões/crenças apresentadas.
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Rodrigo Sousa / Maio 9, 2023
Maria e João, lamento o aluno não estar ao vosso nível. Bem sei que vocês aos 15 anos já dominavam o grego, o latim e o copta, e provavelmente já tinham escrito a 2ª parte do Ser e Tempo, o que nem o próprio Heidegger conseguiu fazer. Para a audiência fica explícito, além elevação intelectual e capacidade argumentativa, o bom gosto de enxovalhar um adolescente.
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Nuno V. / Maio 10, 2023
Muito bom!! Deve-se acrescentar que o argumento “Somente as Escrituras” defendido pelos luteranos não aparece em nenhum lugar da Bíblia. Portanto, já está desautorizado. A um Youtube muito interessante “El nombre oculto sobre el madero de Yeshua ” de uma conferência de rabinos sobre Jesus e sua Paixão. Os primeiros 12 minutos diz algumas bobagens referentes à celebração de santos e aniversários de católicos. Mas então confirma as fontes históricas judaicas sobre o véu rasgado do templo na entrada do sanctum sanctum que media 18 m e tinha 18 cm de espessura. A ressurreição dos judeus justos, as três horas de escuridão como no Egito. A celebração da Páscoa. É muito, muito interessante, embora longo.
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Emilio B. / Maio 10, 2023
Muito bom trabalho teológico para entender melhor as razões de nossa fé. Parabens!
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Isabel Pecegueiro / Maio 10, 2023
Os meus parabéns ao jovem! Em trinta e três anos de ensino do Português no Secundário, tive alguns alunos brilhantes, mas uma erudição e correcção linguística deste calibre, nunca tinha encontrado. Muito bom saber que nem toda a nossa juventude anda perdida e confusa. Melhor ainda ver um jovem a suplantar de longe muitos adultos auto-suficientes e “detentores da verdade” que se fazem publicar.
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Henrique Sousa / Maio 10, 2023
Plenamente de acordo!
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JLopes / Maio 10, 2023
Muito bom, as críticas negativas não justificam os adjectivos usados, enfim uma perda de tempo e de palavras, sem justificação sobre o que afirmam, isso sim é ser superficial.
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