
Um colecionador de arte sediado em Miami, Pablo Rodriguez-Fraile, comprou por 66 mil dólares, em outubro de 2020, um vídeo artístico feito em computador com a duração de 10 segundos, que mostra o que parece ser um Donald Trump gigante estendido no chão de um cenário idílico com o corpo coberto de slogans, tendo-o vendido recentemente por 6,6 milhões (cerca de 5,5 milhões de euros).
Uma reportagem de Elizabeth Howcroft e Ritvik Carvalho para a Reuters, publicada a 1-03-2021, explica como isso aconteceu.
Parece inacreditável que se possa comprar e vender algo de que se pode fazer quantas cópias se queira… Ou talvez não!…
Se se tratar de um objeto físico como um quadro famoso (que também pode ser falsificado) o comprador pode pedir uma peritagem para saber se está a comprar o original ou uma cópia. Tratando-se de um objeto digital, constituído por um amontoado de bits, será possível determinar a sua autenticidade de modo que só esse conjunto de bits seja reconhecido como original e possa ser transacionado sem perigo?
Por incrível que possa parecer, existe uma tecnologia digital que permite certificar a autenticidade e exclusividade de uma “obra” digital: chama-se blockchain.
A obra em questão é um vídeo do artista digital Beeple, cujo nome verdadeiro é Mike Winkelmann, e foi certificada por esta tecnologia.
As obras digitais são um novo tipo de ativo digital, conhecido como non-fungible token (NFT), e as transações de NFTs estão agora em expansão acelerada, com pessoas a investir largas somas de dinheiro da mesma forma que investem em obras de arte palpáveis.
O valor de uma NFT é determinado, em última análise, pela assinatura de quem o produziu ou pelo seu valor intrínseco, como o de uma marca. Ou ainda o de uma moeda digital. Na realidade, o sucesso da mais conhecida moeda digital, o Bitcoin, está relacionado com o facto de estar protegida pela tecnologia blockchain que, alegadamente, garante a sua origem numa primeira transação de compra.
A OpenSea, um mercado para NFTs, viu o volume de vendas mensal crescer de 8 milhões de dólares em janeiro para 86,3 milhões de dólares em fevereiro. As vendas mensais estavam em 1,5 milhões de dólares há um ano. “Se você está 10 horas por dia no computador, ou oito horas por dia no mundo digital, a arte no mundo digital faz muito sentido – porque é o mundo”, disse o cofundador da OpenSea, Alex Atallah.
Os investidores alertam, no entanto, que embora haja muito dinheiro a fluir para as NFTs, isso pode ser uma bolha de valores que pode rebentar. Como em muitas novas áreas dos nichos de investimento, existe o grande risco de perdas se a moda passar e as transações diminuírem. Além de haver a possibilidade de fraudes num mercado onde muitos participantes usam pseudónimos e/ou entidades falsas.
Henrique Sousa (Autor) / Março 12, 2021
Notícia recente sobre a arte digital:
https://www.reuters.com/article/us-global-finance-breakingviews/breakingviews-capital-calls-digital-art-bubble-idUSKBN2B32K2
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