A “recruta” de Abrantes

“Quando aqueles que comandam perderem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito.”
Cardeal de Retz

Eu nem sei bem o que se passou, ouvi apenas algumas notícias veiculadas pelo éter. E vou arriscar dizer já de minha justiça, sem saber pormenores ou reais motivações, sobre o que se passou.

Aparentemente uma jovem frequentava a recruta (uma espécie de sabatina e desbaste, que inicia a transformação de um mancebo/manceba, civil, no seu estádio (“superior”) de cidadão militar (de que muitos são relapsos em aceitar e alguns nunca o atingem – incluindo os do Quadro Permanente) entrou em “choque” com um dos seus instrutores, também ele do sexo feminino, de que resultou – a avaliar por fotos de telemóvel, surripiadas indevidamente, do interior de uma unidade militar (não imagino como hoje em dia se resolvem problemas de segurança com o uso anárquico dos telemóveis…) alguns estragos nos haveres que a Fazenda Nacional pôs ao seu dispor e umas nódoas negras pelo corpo todo, que até se confundem com hipotéticas tatuagens, hoje tão na moda. Como se pudesse haver uma recruta sem nódoas negras…

Tal aparenta resultar de um desaguisado entre “fêmeas”, uma das quais tem uma posição de autoridade sobre a outra, e aqui pode residir o principal problema (que não parece grave) do incidente.

E chamar a isto um incidente já é extrapolar muito, a importância da coisa.

Ora a jovem faz uma queixa chorosa à mãe e o caso aparece na comunicação social com foros de escândalo e já há deputados (do BE e da IL) a pedir a presença do Chefe do Estado-Maior do Exército na Assembleia da República, a fim de dar explicações!

Isto atingiu os foros do inaudito.

Nos tempos em que existia tropa (ainda foi no meu tempo) e a Instituição Militar era considerada e dispunha de uma posição de relevo na comunidade nacional, esta cena seria considerada uma aberração.

O “incidente” teria sido resolvido pelo primeiro-sargento da Companhia, quando muito pelo respectivo comandante de pelotão. E tal resolvia-se com uma “carecada” (agora difícil de executar em “meninas”), a privação de um fim de semana e uma qualquer eventual troca de lugares.

Agora já meteu Polícia Judiciária Militar, processo de averiguações, que não se sabe se já deu algum resultado – e já deve haver uma bicha de advogados à espreita para meter a colher e ganhar uns cobres – e uma intervenção pública da própria Ministra da Defesa (que não faz parte da cadeia hierárquica) que anunciou, imagine-se, um novo processo de averiguações com carácter de urgência (ignora-se o que seja), passando um atestado de incompetência ao Comando do Exército! (ou será ao CEMGFA, já que agora manda em tudo?). Senhora Ministra, se eu fosse Chefe do Estado-Maior do Exército até lhe “trincava o fígado” se me fizesse uma coisa destas!

Os recrutas podem queixar-se pela via hierárquica, pois têm (e sempre tiveram) recursos para isso. Não devem – pois já são crescidinhos – é andar a fazer queixinhas à mãezinha ou, já agora, numa esquadra da PSP – ao ponto a que isto chegou!1

E se não querem confrontar-se com a dureza da instrução, têm um caminho simples: não venham para o serviço militar ou desistam a meio caminho, pois agora – e infelizmente – já não existe o Serviço Militar Obrigatório. Sugiro até que em alternativa, passem a frequentar os acampamentos do Bloco de Esquerda, sempre têm oportunidade de fumar umas “ganzas”.

Não sejam como os membros do Iniciativa Liberal depois do Primeiro-Ministro os ter apelidado de “fofinhos da linha”.

E ainda bem que o incidente foi entre duas mulheres, imaginem se fosse entre um homem e uma mulher (ou um Lgbt+ qualquer), lá se ia a igualdade de género tão querida à nossa Ministra… Não há pachorra.

Conseguiram subverter a sociedade civil e também já o conseguiram quanto à militar.

Se julgam que a continuarem assim vão ter sequer algum arremedo de Exército podem “dar às de Vila Diogo”.

Isto está medonho.


João José Brandão Ferreira
(Oficial Piloto Aviador (Ref.)

(ex-aluno 59/71, da Academia Militar)


1 Um qualquer militar, também agora pode ir pedir uma baixa de doença num qualquer centro de saúde, fora dos Serviços de saúde Militar (por ex.) e ficar em casa sem ter de baixar à enfermaria da unidade… Coisa óptima para quem se quiser “baldar” ao serviço…

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