
Possivelmente acossado por opositores políticos de vários quadrantes, o primeiro-ministro António Costa viu-se compelido a defender os seus projetos de aplicação dos dinheiros que se destinam a mitigar os efeitos da crise pandémica.
Uma das críticas justas que se faz ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que Costa defende acerrimamente é que as empresas nacionais pouco irão beneficiar, salvo nalgumas migalhas que se prevê gastar nalgumas obras. Dessas obras constam obras no Metro de Lisboa e do Porto, umas estradinhas de ligação com Espanha e “obras de melhoria da eficiência energética em edifícios”.
Argumenta o primeiro-ministro que essas obras são para as empresas realizarem, logo é falso que não estejam previstos apoios às empresas. Mas não se refere às quantias envolvidas que são uma pequena parte do bolo e apenas servem para ajudar a prestidigitação política que engana os tolos.
Em primeiro lugar, é estranho que obras importantes como as dos Metros de Lisboa e do Porto não tenham sido programadas há muito tempo e que precisem agora de beneficiar de uma verba que se destina (ou devia destinar-se) a mitigar os efeitos da pandemia. Num país com situações de corrupção nas parcerias público-privadas, e de promiscuidade entre Estado e empresas, as empresas públicas deveriam financiar-se com a venda dos seus serviços e na banca para depois amortizarem ao longo dos anos com o serviço que prestam.
O mesmo se aplica às estradas ou troços de estrada previstos que podiam ser da responsabilidade das Estradas de Portugal ou das câmaras municipais.
Quando lemos o PRR, a impressão com que ficamos é que já vivemos em pleno socialismo a caminho da ditadura do proletariado. O Estado é que decide as grandes obras que quer realizar com dinheiros que caem de bandeja da UE e o poder local e as associações empresariais não são ouvidos nem achados. A decisão é do Politburo socialista.
Por último as “obras de melhoria da eficiência energética em edifícios”. Um país com o clima ameno que nós temos, precisa de melhorar a eficiência energética dos edifícios? Como e em que edifícios? Não acredito que vão oferecer vidros duplos para todas as casas do país e vão isolá-las termicamente? Não é possível. Nem com 1000 bazucas!… Adivinha-se pois que vão ser escolhidos alguns edifícios, possivelmente edifícios públicos, para aplicar técnicas altamente sofisticadas e caras para benefício de empresas nacionais ligadas a outras estrangeiras que dominam essas tecnologias. Casas inteligentes, estores que abrem e fecham conforme as necessidades, vidros que mudam de cor com o sol, recuperação da água do esgoto para beber, sei lá!…
Alegadamente, são obras para as empresas nacionais que farão chegar o dinheiro às pessoas pelo emprego que vão criar, ou talvez não. Pode ser que seja mais barato as empresas nacionais subadjudicarem as obras a empresas francesas, alemãs ou, quiçá, chinesas.
Henrique Sousa
Editor para Energia e Ambiente do Inconveniente