
Como no seu tempo ensinava Cristo, não deve atirar pedras quem alguma vez pecou, peca, ou pode voltar a pecar.
Já o povo, na sua intrigante sabedoria, aconselha a não atirar pedras a quem tem telhados de vidro e, enfim, digo também eu, na minha versão do lema, que cuspir para o ar sem cuidar de verificar antes de onde sopra o vento, pode dar origem a um momento menos conseguido, podendo até cair-nos uma desagradável lostra em plena testa.
Isto podia ter a ver com a recente notícia das desavenças conjugais entre bloquistas que, na zona onde moro (Gaia), lavam roupa suja acusando-se um ao outro de agressões. Como é que isto pode ser?… É lá possível que um partido tão feminista, tão fofinho e açucarado, tenha nos seus quadros representantes do heteropatriarcado machista e tóxico que batem nas mulheres?! E que, ainda por cima, pintaram os lábios de vermelho, naquela campanha pedopsiquiátrica, durante as presidenciais?
Mas não, o tema hoje é a Disney. Estamos em plena animação.
A Disney está, orgulhosa e decididamente, na vanguarda do frentismo woke, como se pode constatar pela xaroposidade folclórica e temática dos filmes e séries que ultimamente vem produzindo, pela forma fradesca com que revê temas de outras eras, reescreve guiões, atafulha “diversidade”, despeja a aborrecida e pesporrente cornucópia de lugares comuns e doutrinações woke, censura obras, despede artistas, contrata imbecis e financia os hipócritas das causas da moda. Numa palavra, a Disney está orgulhosamente transformada numa Stasi pós-moderna, navegando descontraída num mar encapelado de hipocrisia.
Mas a hipocrisia é, por vezes, como um boomerang, ou a tal cuspidela para o ar: atira-se e o objeto pode voltar e acertar na testa de quem o lança, causando dor e nojo. Mas, pelos visto, absolutamente mais nada no interior do crânio da vítima.
Em matéria de cuspidelas para o ar, a Disney vem removendo dos seus parques temáticos cenas que nos tempos obscurantistas até divertiram gerações de miúdos e graúdos, mas que agora parecem ser terríveis pecados à luz do catecismo woke: redesenhou algumas atracções, reformou o Capitão América e contratou um novo, da cor “certa”, decidiu que quem beijava o sapo era uma princesa também da cor “certa”, etc. Para além, é claro, dos omnipresentes disclaimers aos Marretas, Aristogatos, Dumbo, Peter Pan, Robinsons, etc, etc, etc.
Entretanto, nos EUA, acaba de cuspir para o ar, perdão, de lançar, no parque temático da Disneyland, uma nova atracção sobre a Branca de Neve. E eis que, de repente, o cuspo começou inesperadamente a cair muito perto de onde foi expelido.
Para começar, a Branca de Neve é… branca – assim como a neve que, apesar da “emergência climática”, continua a cair branca, indiferente às modas ideológicas.
Há, pois, pano para mangas no que toca à escandalosa falta de “diversidade”, incluindo racismo estrutural e intolerável perpetuação de estereótipos racistas e de género.
Porque é que a Branca de Neve é uma “pessoa que menstrua”, como se designam agora, na linguagem “inclusiva”, os seres humanos que antes eram conhecidos por “mulheres”?
Porque não foi escolhido um marmanjo que se identifique como mulher, mesmo que tenha um arcaboiço de jogador de rugby, e muito pelo na venta, como por exemplo “a” Hanna Mouncey?
Transfobia?… Na Disney?… Mas o que é isto?!…
A história em si, é também um estendal de valores retrógrados, como o facto de os anões trabalharem, sendo portanto explorados e oprimidos por uma rainha má.
E porquê uma rainha? Como se atreve a Disney a perpetuar o estereótipo negativo da mulher como bruxa, feiticeira, manipuladora?!…Só se for uma mulher que não seja “de esquerda, pá!”.
E porque não um rei mau?
Um rei mau tem tudo o que é preciso para desconstruir o heteropatriarcado branco. É homem, é branco, é heterossexual e é monárquico. Obviamente, deve ser fascista, xenófobo, racista, e outros “istas” que convenham juntar, segundo as circunstâncias. Está mesmo a pedir para ser o vilão das novas cenas.
E anões, porquê?… E porquê tão feios?!… Como se permite esta vergonhosa nanofobia e tão ofensivos estereótipos, em pleno século XXI?..
Já agora, para salvar a rapariga tem de vir um cavaleiro, ainda por cima um homem branco, portador de armas, opressor de animais?
Como se deixa a Disney, tão pós moderna e isso, cair no horripilante machismo tóxico, insinuando que a princesa tem de ser salva, exaltando a violência – o príncipe tem uma espada – e o mau trato dos animais (o príncipe vem em cima de um pobre quadrúpede)?!.
Que tenebrosos papéis de género esta história inculca e perpetua na cabeça das crianças?!…
Que traumas lhes deixará marcados a ferro, para toda a vida? É esta a sociedade que queremos construir?…
E no fim, o pior de tudo, o horror, o impensável, o assustador assédio, o avanço sexual sem consentimento, o homem branco e heterossexual atreve-se a beijar a rapariga, alegadamente adormecida, sem que esta tenha manifestado concordância…
Como é isto possível em pleno século XXI?… Na Disney?!…
Um beijo sem consentimento não é amor, é violação, dizem os catecismos woke.
Não tínhamos já estabelecido que o consentimento é uma questão de extrema importância? Que não é correto ensinar as criancinhas a beijar alguém sem que ambas as partes contratantes tenham acordado nisso?… Que não podem saltar para o pescoço da avó e dar-lhe um beijo, sem que esta o tenha expressamente autorizado?
Como pode a Disney, em 2021, em plena Era Woke, dar à estampa cenas que repousam em ideias e conceitos tão ultrapassados sobre o que um homem (não) está autorizado a fazer a uma mulher? Ainda por cima estando ela a dormir?
Estou a caricaturar? Nem por isso. Estes “argumentos” foram efetivamente brandidos, em 1-5-2021, pelo jornal SFGate, de San Francisco.
A Disney ainda não respondeu. Provavelmente, ainda estarão a limpar a testa e a ponderar o peculiar funcionamento da lei da gravidade…
José do Carmo
Maria Helena T. A Fernandes Costa / Maio 9, 2021
Excelente!
Mas… A Disney brevemente terá uma outra princesa, a Aurora, a acordar a Branca de Neve com o tal beijo…
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