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A Europa à beira do fim

A invasão da Ucrânia pela Rússia está a levar a Europa para uma encruzilhada da qual será difícil sair, sendo uma das saídas uma guerra motivada pela escassez de recursos básicos como a alimentação e a energia. O único empecilho é a possibilidade de uma guerra nuclear que o mundo tem sempre evitado porque sabe quais são as terríveis consequências depois do horror de Hiroxima e Nagasaki. Nem os EUA nem a NATO se atreverão a correr o risco e Putin sabe disso.

O que levou a Rússia a invadir a Ucrânia foi, segundo Putin, a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, proteção de russófonos das regiões Leste e Sul. Mas, coincidência ou não, o Leste da Ucrânia é rico em minérios e combustíveis e a “operação especial” pode ter como motivação principal a rapina desses recursos, reforçando a posição da Rússia como um dos principais detentores dos mesmos.

Como a Rússia está melhor posicionada para fornecer energia barata à Europa, esta acabou por criar uma grande dependência dos combustíveis russos. Esta dependência da Rússia nunca foi vista com bons olhos pelos EUA, seja porque estariam interessados no mercado europeu de energia ou por temerem que a Europa ficasse (como está) nas mãos dos russos. A questão energética por detrás desta invasão da Ucrânia é tão essencial que uma das primeiras sanções aplicada à Rússia foi o embargo do gasoduto Nordstream 2 que só precisava de uma certificação alemã para entrar em funcionamento, duplicando a quantidade de gás exportada pela Rússia via Nordstream 1. Não esquecer também que os EUA, durante a governação Trump, conseguiram fazer parar a construção do gasoduto. Logo, há na questão energética grandes interesses em jogo.

Por outro lado, a Europa encontra-se refém do climatismo, o que faz com que queira apostar nas ditas energias verdes e abandono dos fósseis a começar pelo carvão, depois o petróleo e o gás. Mas a energia do gás é considerado a mais limpa das fósseis e tem sido vista pelos climatistas como o complemento ideal das energias verdes na TREC (transição energética em curso). No entanto, a crise de combustíveis leva países como a Alemanha e a Áustria a reativar centrais a carvão e os cidadãos de países como a Polónia fazem filas para comprar carvão, face à chegada próxima do inverno. Não só o carvão, mas também o gasóleo de aquecimento, a lenha, pellets, tudo o que sirva para aquecer.

Outra energia que a Europa já não pensava com bons olhos é a energia nuclear, por receio de acidentes nucleares. Este receio fez abrandar a construção de novas centrais nucleares, tendo até sido programada a desativação de várias centrais na Europa. Porém, a crise já veio provocar uma mudança de atitude em relação à energia nuclear. A energia nuclear é essencial para a produção de energia elétrica de base, mas tem de ser complementada por outras centrais de resposta rápida, como as centrais a diesel ou a gás. Mas também como fonte de calor (um sub-produto) que pode ser usado para aquecer casas ou para dessalinizar água do mar.

Apesar destas alternativas, a Europa continua a precisar de petróleo, carvão e gás para os transportes, indústria, geração de eletricidade e aquecimento. Sem energias fósseis baratas, a Europa vai perder competitividade, muitas indústrias irão à falência, agricultura, pecuária e pescas tornar-se-ão mais caras, a inflação e o desemprego aumentarão e haverá muito mais pobreza.

O preço da energia continua a subir, impulsionado pelo preço do gás que não cessa de bater recordes. Se o gás sobe, e dado o peso que tem na geração de eletricidade, a eletricidade também sobe, a procura de fontes alternativas faz também subir o petróleo, o carvão e até os pellets.

A eletricidade, cujo preço tem vindo a subir, poderá atingir valores proibitivos, como 1 €/kWh, isto é, cinco vezes mais que o atual. Isto poderá paralisar a indústria europeia, além do efeito direto que terá nas famílias que enfrentarão desemprego, aumento das faturas de energia, inflação, etc. Será o fim da abundância europeia, esmagada pela falta da energia russa barata e obrigada a comprá-la a preços exorbitantes de outras partes, como África e Américas principalmente, onde os operadores alegam escassez, o que faz aumentar ainda mais os preços.

E todo este panorama energético é completado com o facto da corrida às energias verdes que, apesar de estarem a tornar-se elas próprias mais baratas, fazem encarecer a eletricidade das outras centrais (como as térmicas) pois distorcem a procura e reduzem a sua utilização. Se os sistemas de armazenamento fossem baratos, mas não são, podia fazer sentido a Europa apostar nas energias verdes. De resto, se a guerra provocar um corte total da energia barata da Rússia, a Europa estará à beira do fim, refém dos lóbis energéticos. Não há volta a dar!


Henrique Sousa

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