25 de Novembro – 47 anos depois

Passaram 47 anos desde que Portugal esteve perto de uma guerra civil, mas optou por colocar um fim ao PREC. Não irei descrever os acontecimentos que caracterizam a história do 25 de Novembro, pois optarei por falar da evolução e das consequências que esse dia teve para Portugal.

Começo por dizer que o 25 de Novembro tem pouco valor para a sociedade civil. Não é fastidiosamente comemorado como o 25 de Abril, que tem vindo a ser tratado como uma espécie de nova religião em Portugal.

Essa religião não permite que o 25 de Novembro seja equiparado e ensinado em pé de igualdade com o 25 de Abril. Praticamente todos os alunos ouvem falar do 25 de Abril até ao secundário, mas é surpreendente a quantidade dos que nunca ouviram falar do 25 de Novembro.

A falta de solidez e presença desta data em termos populares, coincide com o endeusamento do 25 de Abril e toda a subcultura marxista a ele associada, hegemónica no atual regime, que enfraqueça a energia dos autoproclamados “de direita”. Após o 25 de Novembro, muita da sociedade civil ficou convencida que o pior tinha passado e optou pela paz e sossego. Daí considerar que, por isso mesmo, o 25 de Novembro não foi perfeito.

Não é bom o comodismo dos apoiantes da direita, que ao centro saem à rua nas campanhas eleitorais ou nas manifestações LGBT, no caso do PSD e da IL, e deixam o CHEGA a atuar sozinho nas manifestações contra a ilegalização de um partido político em plena democracia, e contra o ideário marxista de que somos todos uns opressores com uma identidade nacional que deve ser substituída. Ainda hoje é impressionante como é que há “direitinhos” que não criticam os seus partidos por não defenderem Portugal quando este foi injustamente apelidado de “racista” pela extrema esquerda. Esse comodismo é descendente da falta de necessidade de fazer frente ao Marxismo, na guerra cultural que estes declararam a Portugal.

Pelo facto de não termos tido uma ditadura marxista solidificada, ficou a sensação de que o Marxismo perdeu e a democracia ganhou, já que os partidos mais à direita, embora não de direita, conseguiram travar, na teoria, a revolução de esquerda.

Como consequência, Portugal é o exato oposto a alguns países do leste europeu, onde o Marxismo simplesmente não é tolerado, seja por lei ou por vontade popular, e sobressaem os exemplos da Hungria, Polónia, Chéquia e Estónia.

Por exemplo, nesses países o Holodomor é sistemicamente relembrado. Aqui, o PAR dá-se ao luxo de não permitir uma exposição que refere o regime que o perpetrou, como se isso fosse aceitável, dados os milhões de mortos nessa tragédia.

Nesses países, partidos como a IL ou o CHEGA estão entre os mais populares, e discute-se política ao centro e à direita, sendo irrelevante o contributo da esquerda, já que esses mesmos povos não esquecem os horrores pelos quais passaram, depois de décadas na pobreza material e imaterial. A 3ª República faz questão de relembrar aos portugueses o Salazarismo, mas jamais relembra o desastre que foi a 1ª República e o PREC, pois teria como consequência o despertar ideológico de milhares de portugueses, para a necessidade de uma oposição forte ao pior do que a esquerda deu a Portugal.

Nesses países, a redução de impostos e o aumento da liberdade económica, adaptada às características culturais e geográficas, permitiram à Hungria, Estónia, Chéquia e Polónia descolarem economicamente desde que se libertaram do Marxismo, ao passo que Portugal está praticamente estagnado (em média) desde há 22 anos. Também é verdade que alguns desses países têm governos iliberais. Orbán chegou a ser um liberal, mas hoje é um Nacionalista Cristão convicto (sendo que a Hungria é um dos países com impostos mais baixos na Europa em várias matérias), e depois temos o partido polaco PiS, também Nacionalista Cristão, mas de caráter mais dirigista na economia, embora praticante de grandes alívios fiscais desde o início da pandemia.

Nesses países, o ideário marxista que favorece a destruição da identidade nacional, e o internacionalismo laboral, simplesmente não tem espaço para atuar. Com políticas de fronteiras fortes e fechadas a não europeus, países como a Polónia e Hungria passaram ilesos durante a crise dos atentados terroristas e são um bloco demográfico europeu monolítico e coeso, como deveriam ser.

Todo o oposto do que referi é defendido em Portugal. Este país permitiu que certos valores marxistas se infiltrassem nos partidos mais à direita, nomeadamente o PSD, sendo que a social democracia é descendente do Marxismo, e da IL, que se diz anticomunista, mas é leviana e passiva quanto a uma oposição à natureza das políticas progressistas dos partidos de esquerda.

É o típico laissez faire da “direita fofinha” e comodista. O raciocínio não deriva muito da ideia de que se os outros não danificarem a minha propriedade privada, podem ter espaço para doutrinar crianças num exercício de engenharia social progressista e manipular a sociedade civil rumo a uma atomização artificial por parte dos seus membros, que não conseguem reconhecer algo tão simples como a pertença a um coletivo. Essa pertença é um propósito de vida mais nobre do que o individualismo que o corrói, mas preferimos ceder ao típico dividir para conquistar.

Para estes atores políticos, não interessa se estes partidos estão a danificar Portugal, logo que não sejam uns hereges contra o dogma da democracia liberal de Novembro. Acreditam mesmo que serão recompensados pelo insucesso ordeiro e fatalista, ao permitirem que a hegemonia cultural de esquerda persista no seu país, ao mesmo tempo em que comemoram o facto de esta não ter sido a mentalidade dos que preparam o contragolpe no 25 de Novembro, e ainda agradecem.

Concluindo, esta religião do 25 de Abril oblitera a essência do 25 de Novembro. Para as gerações que o sucederam, o desastre do PREC foi esquecido, e as bandeiras ideológicas marxistas passaram impunes, estando normalizadas até no centro direita. Quem as quer combater vê-se obrigado a confrontar uma perseguição da justiça, da comunicação social mainstream, e inclusive, da incompetente exclusão da “direita fofinha”, que serve como peão, neste jogo de xadrez entre os pais do regime e os antissistema.


Francisco Pereira Araújo

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Latest comments

  • Retrato perfeito…

  • O psd (ps-b) constituiu-se em mulher a dias do pêiesse pois apenas serve para limpar as ‘borradas’ que resultam dos ‘avanços’ para o socialismo quando os credores não dão dinheiro.
    O cds, que a reaparecer não se lhe vislumbra grande mais valia para o sistema político, a manter a ‘militância’ que caracterizava os seus elementos, lá os voltaremos a ver bater à porta do ‘pêiesse’ à procura de uns ‘tachos’ para a aposentação.

    Estes dois partidos, a ‘direita’ autorizada pelo pcp, constituíram um ‘biombo’ impeditivo do aparecimento de partidos da ala direita do espectro político nacional, que não se borrem de medo de serem chamados de ‘fassistas’ ou de ‘extrema direita’ e outros mimos usados pela esquerda.

  • Muito interessante. Parabéns. Precisamos de mais textos frescos como este.

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